quinta-feira, 20 de maio de 2010

ME IN WONDERLAND

Vivencio experiências indescritíveis em meu plano de sonhos. Sempre que desperto de nova "jornada sonhante", reflito em busca dos motivos que possivelmente teriam guiado o roteiro do que, durante a noite, me veio à mente. Salvo em ocasiões óbvias, gasto nem que sejam as 24h do dia em busca de respostas. Me apego à essa descoberta. Sinto e me agarro à validade de qualquer informação que me faça compreender a passagem dessa nuvem. Comentários, movimentos, imagens, pensamentos, ações, ..., toda essa abundância de detalhes é plenamente capaz de inspirar quem dirige meus longas, médias e curtas metragens.

Hipocrisia seria afirmar que não me surpreendo com meus sonhos. Mesmo que eu os sonhe repetidas vezes... Na presença das reprises, surpreendo-me (cada vez mais) com a sensação de já ter vivido aquilo, de já ter SIDO aquilo. Sim, quando imagino - sobretudo nos sonhos - vivo demasiadamente cada sensação que me transporto ao encontro dela. Torno-me o próprio sonho devido tamanha entrega.

Nesse plano, não só a surrealidade com que tudo acontece me choca. Encanta-me a a força da expressividade e o exagero na sentimentalidade. Ao acordar, antes de começar a relembrar e a processar a carga de cada sonho, preciso - vez por outra - respirar fundo, conter a taquicardia, secar as lágrimas, contar até 10, situar-me na realidade, e - sobretudo - agradecer por tudo aquilo não ter passado de um sonho.

As experiências que vivo nessa outra "dimensão-particular", sempre que são fortes demais, {assim como a que se fez presente na noite passada e se apresentou - cordialmente - por "razão para que eu pusesse pena à mão"} me trazem certas reflexões quanto ao porquê de elas terem me emocionado tanto. Susto! É nesse momento que me enxergo petrificado. A crueldade do cotidiano me faz perder hectares de sensibilidade. Sensibilidade essa que eu procuro aprisionar em mim e que, no entanto, se esvai sem que eu tome conhecimento. Contrapondo-se, surgem meus sonhos para me resgatarem de tornar-me pedra. Devolvem-me a capacidade de enxergar o simples e o belo. Me fazem chorar, cair, rir, gritar, pulsar, voar, sumir... E nesse plural de sensações - que não desfruto enquanto estou acordado - me é devolvida a capacidade de notar e sentir desde o ínfimo detalhe até o que, de tão grande, é sentido por todos. Sonhar me confere um status mais humanizado.

Reconhecer-me como uma pessoa de olhos fechados me custa. Mesmo que - ainda - eu não esteja completamente vendado, porém, me dói saber que, enquanto respiro, caminho para essa falta de luz. Total ausência de sensibilidade. Sinto que ao me ver nessa caminhada rumo à cegueira igualo-me a outros tantos que decidiram fazer da escuridão um estilo de vida. Me custa, também, saber que tudo isso não passa de filosofia barata e desconexa.

Maltrata-me outra leva de pensamentos utópicos, que me recriminam por pensar - ao menos uma vez - que classifico como sendo antagônicas a mim pessoas que não enxergam o que eu quero que elas enxerguem. Trata-se de puro "imperialismo mental". Sou consciente de que não posso classificar o que seja (ou não) cegueira. Conheço o meu tamanho. Sei, também, que não posso impor o que seja bom só por ser "do contra" e não remar favoravelmente à maré. Todas essas resignações martelam em minha cabeça simplesmente porque eu não permito que elas saiam. Parte de mim as odeia e as quer longe. Porém, se ao acaso elas se vissem livres de mim, me deixariam insuportávelmente intragável para o convívio. E, infelizmente (ou não), conviver, ainda, é uma arte.

É sem nenhum pudor que exalo a beleza do que sonho. Não todos, obviamente. Mas quando a questão é de existirem para serem belos, meus sonhos o fazem com maestria. Nunca consegui transcrever com tamanho realismo e exatidão um sonho visto - nunca tal e qual como, um dia, ele se apresentou a mim. Não é questão de vontade. Quem me dera poder compartilhar o que pude ver enquanto estive de olhos fechados. É impossível! Talvez porque palavras sejam recipientes muito pequenos para compactarem tamanha grandeza... Não sei. Ah, se eu pudesse transcrever a obra prima do sono. Não temeria ser chamado de louco ou o que fosse!

Lembro-me que aprendi, quando criança, a incapacidade de se reviver o que foi sonhado em simples palavras. As pessoas simplesmente não compreendem! Até mesmo nós - os narradores frustrados, que vivemos os sonhos, não os reconhecemos quando os mesmos viram palavras. Dá-nos uma sensação de perda, de ausência... Falta sempre alguma coisa! Pensando por esse lado, talvez seja uma arma de nosso sub-consciente para resguardar sua obra de plágios e piratarias. Certo ele!

Sonhos nos parecem infinitos enquanto duram. Quando saímos das terras soníferas com destino à realidade - enquanto não estamos, de fato, nem acordados nem dormindo - ainda é possível que nos recordemos de partes. Porém, passada a simiente lerdeza matinal, costuma-se esquecer do que se sonha. Uma lástima.

São tantas idéias soltas, tanta indaga, tanta filosofia... Melhor mesmo seria despregar-me do presente em frações de segundo. No ato de fechar os olhos!
... de olhos fechados, resta-me apenas esperar e torcer para sonhar.

...Kalinihxta!

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