sábado, 27 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

FUNERAL

Neste domingo (21/02), enquanto almoçava em uma churrascaria, reparei que foi demolida uma casa antiga que “somente” serviu de cenário para o primeiro longa metragem gravado integralmente no Estado da Paraíba na década de 70. Os pombalenses deveriam, no mínimo, sentirem-se orgulhosos por terem o prestígio de ter a cidade escolhida para as filmagens. No entanto, a importância dada à história parece só existir dentro de quem vivenciou a época, ou pelo que pude perceber, nem isso.

Não preciso citar que constuções como aquela não são mais levantadas. Não sei nem sequer se a casa era habitada. Não sei quando foi demolida ou o motivo da demolição. Vale salientar que o que foi destruído não foi somente a casa, foi parte da história da cidade e de seu povo, os quais acredito que nem se importaram com tal CRIME. Evidentemente, parte da culpa também recai sobre todo o Estado, uma vez que mesmo que sendo pertencente à Pombal, a construção foi não só cenário como também personagem de um filme genuinamente paraibano. Sendo 2010 um ano eleitoreiro, sabemos muito bem que qualquer um que suba ao poder é plenamente capaz de deixar ruir todo e qualquer símbolo histórico se a POPULAÇÃO – que, hoje, não passa de escada para políticos - não é sequer capaz de reinvindicar o que é de sua posse. Todo esse problema possui ramificações ainda mais profundas. Imaginemos uma família miserável: será mesmo que ela prefere um monte de tijolos com “teor histórico” a uma cesta básica? De forma alguma! É plenamente aceitável e recomendável que ela menospreze “coisas velhas” e aceite o que lhe nutrirá realmente. Também aqueles que possuem mesa farta e dominam qualquer decisão política - mandam, desmandam - e no entanto ficam sentados sem tomar partido frente a esse desrespeito, esses sim é quem esbanjam a verdadeira miséria: A INTELECTUAL. Mesmo que sejam estudados, mesmo que tenham 1001 títulos e graduações, antes fossem completos ignorantes! Antes fossem trabalhadores rurais porém HUMILDES o bastante para preservar e saber conviver com o que faz parte de sua história. São organismos estupidamente ricos porém com mentes completamente vazias de valores. Aliás, de certa forma são transbordantes de valores completamente antiéticos que só buscam e se importam com nada menos do que DINHEIRO – e só se importam com ele porque é quem confere o PODER. Portanto o que não gera lucro ou reconhecimento é despresado.

Primeiramente pergunta-se o por que de aquela casa não ter sido tombada como patrimônico histórico, assim como outras construções antigas na cidade. Em termos práticos, enquanto a casa ainda existia, a única utilidade dela era servir de outdoor para propagandas. Sua existência era simplesmente esquecida. Acho estranho esse modo de demonstrar carinho e apego pela história da cidade. Em cima do comentário de José Tavares de Araújo Neto acerca do filme SALÁRIO DA MORTE (Alem do valor sentimental para nós pombalense, ‘O Salário da Morte’ tem imensurável importância dentro do contexto histórico da cenografia da Paraíba...”) eu posso afirmar CATEGORICAMENTE que a importância desse filme para o nordestino, o paraibano e sobretudo para o pombalense é NULA. Se houvesse alguma consideração pelo filme JAMAIS um absurdo desse seria tolerado. O que resta agora é destruirmos o filme, acabar com todas as suas cópias, assim como acontecia antigamente por imposição das ditaduras. A diferença tênue era que a população era dominada, porém, não deixava de se revoltar. Continuava produzindo cultura, produzindo história, fazendo revolução: uma das poucas coisas que fazem alguns agradecerem por serem brasileiros. Atualmente somos nós, a população que destruimos de olhos fechados o que nos pertence – nossa cultura. Somos completamente cegos, mudos, surdos e analfabetos.

Depois de hoje, depois de todo esse descaso, sou plenamente capaz de prever e visualizar o dia em que a Coluna do Relógio cairá por terra para dar lugar ao que há de mais moderno para contabilizar o tempo. Afinal, VIVA A MODERNIDADE! Enxergo o dia em que o Coreto ficará em escombros cedendo a localidade privilegiadíssima para um magnífico espelhado arranhacéu. Imagino a Igreja do Rosário em ruínas com a finalidade de ser construído o que há de mais atual e glamuroso na categoria de exuberantes templos religiosos. E a outra igreja, que em teoria é tombada? Essa já está caindo, mesmo. Pelo menos será poupada uma grande quantidade de mão-de-obra...

Finalizo afirmando que não se dá dois passos à frente com uma cabeça que está há 1km para trás. Não se atinge o futuro desrespeitando e ignorando o passado. Até porque, pensemos, em um futuro próximo, seremos nós os ultrapassados e se não dermos um BASTA, hoje, nessa característica de arruinar o que já se passou, seremos , também, arruinados sem piedade alguma em um futuro próximo.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

OPINIÕES

Na minha concepção, a maior glória do Ser Humano é poder aniquilar, apenas com o uso de um simplório pé - as mãos até mesmo podem estar atadas às costas - um animal que nem mesmo uma bomba atômica é capaz de arranhar.
Esse é um dos motivos que me fazem dizer: obrigado por ser um "gente" e não um "barata".

Concondando, no entanto, com certas teorias de "desfecho de vida", acredito que o Céu não é no céu e que o Inferno talvez não esteja abaixo dos pés. Pela simples explicação de acessibilidade. Concordemos que não deva ser nada fácil conseguir passaporte selado com carimbo celestial. De forma muito mais acessível, acredito que esteja o Inferno a nos esperar. (Refiro-me a NÓS por ter consciência e presunção por afirmar que sou e somos pobres criaturas. Reles mundanos. Portanto, se o leitor é da estirpe das Santidades Reencarnadas, clamo o vosso perdão - "agora e na hora da minha morte, amém.")
De acordo com a crença popular, visualizemos que para chegar ao Céu basta olhar para cima que se apresenta toda uma abundância de rotas possíveis. No entanto, seguindo o mesmo raciocínio, é preciso bastante mão-de-obra para se atingir o Inferno. Logo, partindo pela teoria de que nós, reles mortais, estamos a um passo do inferno, a passagem certamente é muito mais acessível. (A não ser que por culpa da gula de nossos primeiros ancestrais, Deus, além de toda a penosidade de vida que praguejou para nosso destino, também castigara os maus a depois de morrer ainda terem que cavar a própria cova com destino ao Inferno. Sendo quase toda teoria e explicação muito lógica, sou adepto dessa. É muito mais difícil levar uma vida de negação, paciência, resignação, bondade e derivados. Portanto, é uma modelagem de vida penosa. Há de se galgar cada dia de existência como sendo um degrau. Logo, pra chegar ao Inferno basta se deliciar com o sabor das ondas, deixa-se que a maré de circunstâncias nos conduza a um "particular" com o Cão.
O bicho GENTE é muito imaginativo - acredito que a explicação disso seja o ócio - e é capaz de estabelecer semelhanças entre tudo. Não obrigatoriamente o que é comparado tem de ser vivo. Eu, por exemplo, sou convicto de que há GENTES que são fruto de uma gestação de gêmeos univitelinos. Dentro das maternais barrigas, dividem espaço com um relógio. Sim, um relógio e uma pessoa são mais semelhantes -diria eu que até idênticos - do que se aparenta. Cada qual que dê mais voltas que o outro. Ambos presos a um dito tempo que sabe-se lá se existe, ou não.

Permanecendo nas "univitelinidades": seria o sono um irmão da morte? Seria o sonho o que está por além da fronteira? Será que existe mesmo fronteira? Não há quem não se atraia por coisas que nunca soube explicar. Mesmo que negue, sei que até o medo é um elo. As obscuridades e o que é inexplicável - indecifrável - ganham, mesmo que em parte, um olhar, um pensamento, um sonho. Chega a ser cômica essa busca por qualquer coisa que talvez nem exista. Seria perda de tempo?

Em síntese, enxerga-se toda uma sorte de injustiças. Porém, nas minhas crenças, injustiça verdadeira é a acomodação. É a cruz da vida de qualquer um. Uns poucos se acostumam ao posto de ordens, outros mais precisam se flexibilizar perante o que é determinado. Não é revolta, nem tampouco crítica à obediência. Trata-se apenas de simples protesto perante a falta de flexibilidade e o desuso da prática do consenso entre partes envolvidas.

Uma grande revolta - sim, agora é grande revolta - cai sobre os ditos "mornos". Ninguém tem a proeza de ser integral - 100%. Cada qual que seja menos completo. É como se fôssemos corrompidos por qualquer coisa. Toda condenação, quase sempre, nunca é plena. "Além das almas serem quase sempre muito pequenas" é plenamente aceitável que quase todas também tenham seu "lado bom". É justamente essa complexidade individual de cada um que irrita. Ao menos se os bons fossem bons, e os maus fossem maus por completo, "maus autênticos" - se desde nascença fossem maus, se não existisse um motivo pelo qual foram transpostos do bom ao ruim...

As paixões são - por completo - verdadeiros desvarios. São também ímãs de maus olhos. Encontrar amor é um garimpo árduo, é mais sorte do que capacidade. Tem de estar no contexto certo, no dia certo, na hora certa, no lugar certo - sendo não necessário ser A PESSOA CERTA. Visualizemos o quão magnífico deve ser amar e ser amado. Quase que uma perfeição. Porém, às pobres panelas - que não acharam suas tampas; aos pobres pés - que não acharam seus chinelos; e às pobres orelhas - que não acharam quem as cubra, só resta maldizer e afogar-se em mar de acidez e amarguras. Concordemos que casais são sempre irritantes demais se nós formos os solteiros que os acompanham. Será inveja ou despeito? Tendo em vista que nem todo mundo tem seu par, o ideal seria a auto-suficiência amorosa. Chega a ser engraçado essa vontade de estar sempre em par. Certamente estamos em constante treinamento para povoar uma nova "arca-de-noé" com nossas espécies amorosamente animalescas.

***

Precisamos, talvez, de uma reforma? Fechemos, então, nossas vidas, nossa existência, nosso mundo e o que mais nos cerca para balanço. Fechemos também nossas opiniões. Fechemos essa capacidade de criticar. Fechemos tudo e "deitemos a chave fora".

É por essas e outras que repito - diariamente: obrigado por ser um "gente" e por saber que um dia, finalmente, portas e frestas se fecharão permanentemente.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ARTE MODERNA

O GUARDADOR DE REBANHOS

Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,

Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele


Alberto Caieiro (pseudônimo de Fernando Pessoa)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Mas bem triste há de ser a gente sem outra finalidade na vida que a de fazer filhos - sem saber porquê nem para quê.
...para continuar a espécie, dizem aqueles que crêem num objetivo final, numa razão última, embora não tenha nenhuma idéia sobre quais sejam e nunca se perguntaram em nome de quê terá a espécie de continuar como se fosse ela a única e derradeira esperança do universo."

(J. Saramago)