quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NOVELA

Já vendi muita cerveja em beira de rio. Um pouco de tudo, nessa vida, já fiz. De arrependimentos, que eu me lembre, só um. Me arrependo de não ter desarmado àquela rede. Maldita rede! Foste tu a culpada. É sua, toda sua, a culpa de eu estar aqui hoje. Assim, hoje. A falha é minha, mas a culpa? A culpa você já sabe de quem é.

Mesmo que eu andasse sem forças... Mesmo que, bem próximo ao fim, eu não fosse capaz de me manter em pé sem que houvessem paredes fincadas à terra e santos cravados ao céu. Mesmo que ostentando "a independência e prioridade dos fatos" eu estivesse cheia até a tampa de sentimentos arrasados. Mesmo que eu fingisse tirar coragem sabe-se lá de onde a fim de de dar continuidade à minha luta diária: bastou que um dia eu esquecesse de desarmar àquele trapo e esse lapso de memória me foi fatal.

Cresci em universo supersticioso. Unhas não se cortam de noite, entra-se em casa sempre com o pé direito, não se costura a roupa enquanto se está vestido nela, gatos pretos à mil metros, quando a faca cai ao chão risca-se uma cruz com a ponta, relógio parado é mau agouro, ver coruja cantando é mau agouro, corvos são - não maus mas terríveis - agouros e viajar sem desarmar a rede em que se dormiu é mau agouro.

Quando em vida, temia toda a sorte de agouros, e mesmo sabendo que os piores deles saíam das retinas alheias não me precavi a tempo. Tem-se até em Bíblia que a arma mais perigosa do mundo são os olhos. Muito cuidado com eles!

Muito embora tenha ostentado bandeira branca e passagem escancarada à inveja, se tivesse outra chance - de quem sabe corrigir esse erro permissivo - não pensaria duas vezes em jamais baixar a guarda novamente. O amor estupidifica. É dos anestésicos, o pior. Hoje, sei que a raça do que eu plantei nas entranhas dessa alma era erva daninha. Me fez sentir invencível no início e abaixo dos derrotados ao fim. Estiquei e endureci as pernas, apontei o nariz ao céu como quem fareja a mais alta nuvem, e, por isso - tão somente por isso - não enxerguei a rasteira logo abaixo.

Lembro-me bem do dia em que pisei pela primeira vez no restaurante. Não era cliente. Era mão-de-obra. Eu o adorava. Adorava o cheiro da comida, o malabares das panelas, meu uniforme, as inscrições nas paredes, a maciez do carpete, o bordado dos guardanapos, o tilintar e ranger de pratos e talheres, os mantimentos refrigerados, a agilidade dos garçons e a música que brotava e se dispersava - nem em elevada, nem em inaudível sonoridade, mas em volume perfeito.

Minha função era simples e curta na ordem, porém de complexidade e "interminabilidade" quanto à execução. Sem problemas. Disposição me sobrava. Limpava todo o ambiente com verdadeira maestria. Tudo isso acompanhada do mais largo sorriso. Ao menos, oportunidades, a vida não me negara. O esfregão ou o que eu usasse na higienização remexia no compasso do JAZZ que era distribuído pelo salão. Toda aquele conjunto de façanhas musicais me inspirava. Era meu combustível. Não abria mão de arranhar baixinho qualquer idioma da voz dos intérpretes. Quando ao banheiro - antes e depois da chegada dos clientes - limpava da lâmpada ao ladrilho do rodapé dançando freneticamente. Afinal, apenas meu reflexo no espelho poderia me observar.

Foi o restaurante a base para o início de uma paixão. Sendo ele o que me uniu ao grande amor da minha vida. Despida de toda a perfumaria das romantizações, narro a profundidade do encontro e a veracidade do sentimento que se sucedeu. De início eram olhares furtivos intercalados com suores e palpitações. Foi entrega mutua. Vê-lo por trás do balcão com aquele jeito calado, sempre atento, sempre prestativo, calculando valores, juntando moedas e somando comandas, me tirava do eixo. Não precisamos de mais do que duas semanas para estarmos juntos. Não precisamos de mais de um mês para dividirmos o mesmo teto. Casamento era besteira, na opinião de ambos. O que um mero atestado de papel fazia em teoria, na prática, não diferia da simples "união de escovas-de-dente".

Aquela prsonalidade às vezes me matava. Era o tipo da pessoa que mesmo tendo todo um embasamento para suas atitudes, não me revelava nada. Tomava suas decisões, muitas delas referentes a mim - referentes a nós - porém não dizia seus motivos. Só depois, de muitos cabelos arrancados, muitas lágrimas corridas, muita raiva, muitos gritos e promessas minhas de pôr um fim em tudo, era que, tomado por quem sabe compaixão, ele compartilhava razões, motivos e explicações para cada movimento, cada articulação. Classifico essa característica como sendo uma espécie de "pudor pela raiz". Avista-se toda a planta - todo o problema - mas a raiz, que às vezes poderia ser a solução, matinha-se protegida. Essa ânsia por minha parte de compreender cada decisão e cada jogada aliviou-se depois de muito sofrimento - ora calado ou gritante. Depois de saber que no fim de tudo ele sempre estava certo: apenas me resignei. Deixei prá lá. Preocupava-me apenas em amá-lo cada vez mais. De formas ainda não descobertas e cada vez mais intensas.

Tomei postura secundária. Confesso que me distanciei dos planejamentos. Deixei-o governar minha vida e os possíveis rumos que a mesma poderia tomar. Desejava um filho, um muito amado e querido filho. Cheguei a me chatear algumas vezes quando ele me vetava esse desejo. A razão sempre ao seu lado: não tinhamos condições. Nossa situação financeira sempre apertada fazia transparecer que o dinheiro não tinha rendimento. Trabalhavamos muito e nossa recompensa não sobrava para o materialismo. Estava estabelecido o entrave para a maternidade. Meu otimismo servia de consolo, empenhei-me ainda mais. Busquei serviços paralelos. Consegui um novo emprego - conciliado ao restaurante - cuidando de crianças. Canalizava o desejo de ter a minha criança com os filhos dos outros. Adotei-os no coração. Todas as vinte e quatro horas do meu dia estavam sendo - na medida do possível e do impossível - preenchidas. Por fazer coisas demais a qualidade em alguns dos mil "empreguitos" tipo "freelancer" ficaram por desejar.

O cansaço grudou aos meus ossos. Toda a incompetência me rendeu problemas de saúde e culminou na minha demissão do restaurante. Já não era mais o vigor juvenil em pessoa. A cruz da idade avançada estava longe de pesar, mas já era capaz, precocemente, de sentir o martelar das chagas. A dor por "darem minhas contas" no meu tão idolatrado trabalho foi imensa, mas tendo meu anjo-da-guarda (mestre em articulações e conhecedor de várias saídas para qualquer que fosse a situação) sempre ao meu lado me amparando - mesmo que na maior parte das vezes pensativo e calado - o clima ruim foi logo superado. Aprendi com esse golpe do destino a aliviar minhas auto-cobranças e a incondicionalizar, cada vez mais, a loucura de sentimentos que se manifestavam em mim por ter ao meu alcance peça tão maravilhosa. Tinha sempre acessível às minhas mãos, pernas, lábios, alma e coração o meu amado. O meu homem. Bastava-me isso.

A rotina retornou. Cuidando da minha saúde, e a pequenos - porém firmes - passos, reestabeleci minha posição frente ao que me exorcisava. Voltei a trabalhar. Reassumi boa parte dos empregos com segurança. Consegui equilibrá-los de forma que não ficassem mal feitos. A vontade de ser mãe, agora mais do que nunca, martelava minha existência. Sentia esse exigente chamar da natureza. Me entreguei a ele. De forma sorrateira, articulei pequenos mecanismos para fazer com que uma gravidez se fizesse presente quase que como uma fatalidade. Esqueci propositalmente os remédios que me infertilizavam e, assim como meu marido, manti as artimanhas e minha meta em sigilo.

Não tardou muito e a positividade dos testes farmacêuticos e hospitalares me conferiu o tão idealizado e sonhado presente. Presentes. Conforme me confirmaram exames posteriores: eram gêmeos. Muito preocupado com o futuro, assim que soube da notícia, o esposo pôs-se a estabelecer metas, parâmetros e programaçõas. Compartilhei por algum tempo suas preocupações mas depois, em face da magnitude do que se anunciava na minha vida, passei a curtir cada segundo que compartilhava com minhas crias, deixando que o tempo ajustasse e designasse o que estava por vir. Sem cobranças. Tranquila com minhas crianças. Toda a obcessão, por mim, cultivada pelo pai delas foi dividida para mais dois. Não cheguei a ser negligente com ele, apenas, como ele sempre dizia, estabeleci prioridades. Prioridades essas que eram questões relacionadas aos nossos filhos.

Inevitavelvente me distanciei do mundo. Deixei muitos dos empregos e fiquei apenas com os mais leves. Até quando eu aguentasse. Trabalharia até que chegasse o meu momento. Permaneci com a creche. Era o único que me garantia amparo quanto às licenças, das quais precisaria dar entrada em breve. Seguindo feliz, modifiquei minha rotina. Pesquisei com várias pessoas toda a série de cuidados que precisaria tomar. Procurava caminhar bastante, sempre por lugares arborizados, contava histórias para a barriga, fazia carinhos e mimava meus nenês. O relacionamento em casa tomou um novo foco. Eu era o centro. Quer dizer, nós éramos. Ele ficara cada vez mais calado, mas isso não me incimodava. Sentia que suas ações falavam por si e seu olhar transbordava o que realmente sentia. Não era preciso palavras para expressar o sentimento que realmente existia. Ele sabia disso e eu também.

Apareceu um convite. Uma conhecida me convidara a fazer uma pequena e tranquila viagem à praia. Dizia ela que faz bem o Sol da praia e os ares do mar... Havia algum dinheiro reservado. Como faltavam por volta de três meses à data prevista para o parto, decidimos que ele iria ocorrer nessa cidade. Cidade praiana. Meus filhos nasceriam próximos ao mar. Cheia de expectativas comprei as passagens. Infelizmente, de última hora meu acompanhante não pôde ir comigo. Prometeu-me que assim que conseguisse uma brecha no restaurante iria me ver, e estaria ao meu lado quando nossos bebês nascessem. Senti sua falta. Aguardava como nunca a chegada. Na praia tudo é lindo. Escrevi cartas, mandei postais e telefonei. Sempre eu. Nunca ele. Dizia que serviço o estava apertando muito... Quando viesse me ver pediria as contas e receberia um seguro desemprego que seguraria, por algum tempo, as nossas pontas...

Faltando pouco mais de um mês, mais ansiosa do que nunca, nervos à flor da pele. Nao durmia mais. Sempre com medo de sentir dores ou de machucar a barriga. Cochilava apenas e tinha pesadelos horríveis. Tudo se tornou muito tenso. Faltavam-me notícias do interior. Enchia-me o saco o litoral. Queria saber como estava a casa. Sabia que toda aquela ansiedade faria mal aos nenês. Em síncope de nervosismo, e por por bestagem, ocorreram atritos entre hóspede e hospedeira. Eu e minha amiga não nos entendíamos mais. Resolvi voltar para casa. Teria meus filhos em minha terra, mesmo. Sem depender de ninguém. Procurei de algumas formas contactar meu marido. Seguindo-se as frustradas tentativas, decidi que seria melhor fazer surpresa. Afinal, depois de tanta saudade: ele iria adorar.

Cheguei em casa pela noite. Horário propositalmente escolhido para que o encontrasse em casa. Há algumas horas ele certamente já teria saído do trabalho. Estaria provavelmente jantando. Quão radiante estava eu preparada para entrar em casa e ser coberta de beijos. Aquele amor que, nos últimos meses, se tornara - de certa forma - ausente me fez muita falta. E não só a mim, certamente. Seus frutos também precisavam se sentir amparados.

Caminhei algumas ruas, pedi que algum conhecido me ajudasse com as malas. Havia comprado pequenos mimos durante a viagem. Encontrei a casa com as luzes apagadas, mas ainda no mesmo lugar e do mesmo jeito que a deixei. O coração palpitava. Sentia cada remeximento na barriga. Abri o portão silenciosamente. Adentrei em passos leves. A porta estava semiaberta. Empurrei-a. A luz do quarto estava acesa. Alguns barulhos abafados. As cortinas do vão da entrada do quarto estavam fechadas. Sombras. Mais de uma pessoa. Quem mais estaria lá? Parei. Escorei-me na parede. Gemidos oscilantes. Não poderia ser! Continuei a ouvir. As sombras se mexiam cada vez mais. Os contornos dos corpos estavam, agora, visíveis. Não pode ser! Ouvi promessas cortadas com beijos que de tão sonoros presumiam-se mais do que ardentes. Juras. Amores eternos. Fugas. Aquele que antes eu conhecia pelo silêncio abria-se em declarações nunca antes dirigidas a mim. Não pude acreditar. Estava agora explicado o motivo da ausência. Não conseguia me mover. Minutos se passaram, eu pregada à parede. Músculos rijos, corpos entrelaçados, risadas e mais beijos fumegantes.

Uma dor enorme entorpeceu-me dos pés à cabeça. Soltei-me da parede. Caminhei sem perceber que pisava o chão. Cheguei ao portão em choro convulsivo. Ajoelhei trêmula no meio da rua. Tudo escureceu.

Acordei na cama de casa. Lembrava de tudo, mas a voz não saia. Aquele que me traira estava ao meu lado. Ares de preocupação. A vizinhança me rodeava. Muita gente. Calor. Ar abafado. Tudo escureceu.

A claridade abriu-me os olhos. Dormira a noite inteira. Ainda estava na cama. Da porta, entrava o esposo. Mil perguntas. Por que estaria, eu, lá? Estaria, eu, após todo o ocorrido, bem?...
Pus-me de pé. Ainda me lembrava de tudo. Estava meio fraca. Os pensamentos estavam às voltas na cabeça. TRAIDOR, TRAIDOR, TRAIDOR! Preferi me manter calada. Antes eu. Antes meus filhos. Preciso primeiro me recuperar... Eu, com essa natureza tão explosiva, nunca, nem em sonho, poderia ter previsto tamanha atuação. Estava sendo, eu, quem fingia. Tamanha dissimulação e sangue frio só poderiam ter vindo por encomenda...

Nos dias em que passei sob o mesmo teto que o "cônjuge", inventei algumas desculpas. Aleguei preferir dormir na rede. Acomodaria-me melhor lá. Na verdade, não me esticara JAMAIS naquela cama infame novamente. Certamente seriam só dias contados. Só precisaria me reestabelecer mentalmente. Articular saidas, planos de fuga e tudo o mais. Será que toquei de papéis com o infeliz? Não há tempo a perder. Mente à todo vapor.

Por dentro, sentia minha alma se esfarelando. Levando junto a saúde - única coisa que ela não poderia levar junto . Meu coração foi o primeiro a desaparecer. Foi o primeiro a esmigalhar-se ao vento. Os segundos se encarregavam de trazer placa de indicação ao iminente esfarelamento do resto do corpo.

Desesperei-me por não me sentir melhor nunca. Verdadeiro cárcere. Pensei em matá-lo. Não, não. A culpa disso não poderia recair sobre mim. Por mais que tentasse me menter ereta por fora, tentando estimular meus pensamentos, por dentro estava tudo arrazado. Não aguentava mais fingir. Não aguentava mais o ver. Não aguentava mais lembrar. Meus filhos não podem sofrer com isso. É hoje que boto um fim em tudo isso.

Juntei algumas coisas. Separei algumas sacolas e as enchi com todo o dinheiro e o que mais havia de valioso em casa. Vivo ele ficaria. Porém, sem nada. Telefonei às escondidas para a amiga que antes me abrigara. Me humilhei e clamei perdão. Pedi ajuda e contei toda a história. Estando o destino determinado, uma vez que a amiga me dera, novamente, apoio, só me restava comprar a passagem. Esperei-o dormir. Juntei tudo. Fechei a porta e deitei a chave no mato. Que o inferno lhe aguarde, traidor!

Mal sabia eu, que possivelmente, o mesmo paradeiro final que desejei a quem tranquei e abandonei em casa, poderia também me aguardar. No calor do momento, esqueci a rede armada.

Embarquei no ônibus com um misto de triunfo e tristeza. Estaria agora em paz? Já não merecia ter passado por tudo isso. Nada fiz para merecer. Já não tinha mais lágrimas. Chorar prá quê? Apartir de agora me resolverei em termos práticos. Não mais confiança e não mais inocência. Chega de viver passionalmente!

Começou como chuvisco e em poucos segundos a tempestade engoliu o veículo. Sem ter onde parar, seria mais prudente seguir, cautelosamente, viagem. Velocidade reduzida. Além do barulho crescente dos pingos que ouviam-se chocar sonoramente nos vidros, fez-se sentir um forte tremor. Uma enorme massa de terra despencou-se acima do ônibus e degladiou a lataria. Muita gritaria, coisas despencando, crianças chorando...

Seguiram-se poucos segundos. Diriam alguns que transcorreu-se o tempo necessário para arrependimentos dos males que foram cometidos nessa vida. Males? Nenhum. Arrependimentos? Só um.

Tudo escureceu.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

ULTIMATUM

Fora tu, reles e esnobe plebeu.
E fora tu, imperialista das sucatas.
Charlatão da sinceridade!
Tu da juba socialista...
E tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles,
e a todos que sejam como eles.
Todos.

Monte de tijolos com pretensões à casa.
Inútil luxo. Megalomania triunfante.
E tu, Brasil. Blague de Pedro Álvares Cabral,
que nem te queria descobrir...

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular.
Que confundis tudo.
Vós, anarquistas deveras sinceros
socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhador
para quererem deixar de trabalhar...
Sim, todos vós que representais o mundo.
Homens altos:
Passai por baixo do meu desprezo!
Passai aristocratas de tanga de ouro!

Passai, frouxos!
Passai radicais do pouco...
Quem acredita neles?
Mandem isso tudo para casa
descascar batatas simbólicas!

Fechem-me tudo isso à chave!
E deitem a chave fora!
Sufoco de ter somente isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas.
Abram mais janelas
do que todas as janelas que há no mundo!

Nenhuma idéia grande,
nenhuma corrente política
que soe a uma idéia grão.
O mundo quer a inteligência nova!
Sensibilidade nova!
O mundo tem sede de que se crie.
Porque aí está a apodrecer a vida.
Quando muito é estrume para o futuro!
O que aí está não pode durar.
Porque não é nada!

Eu, da raça dos navegadores,
afirmo que não pode durar.
Eu, da raça dos descobridores,
desprezo o que seja menos
que descobrir um novo mundo.
Proclamo isso bem alto!
Braços erguidos,
fitando o Atlântico,
e saudando abstratamente o infinito.



(Álvaro de Campos)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

ENTRE MURILO E O FIM-DE-ANO

Não sei bem o por quê dessa ligação entre mim e o finais dos anos.
Existem pessoas que não se interessam pela série de confraternizações dezembrinas {também pelas janeirinas, fevereirinas, marcinas... É uma corja mal amada, MESMO. Rs}. Comigo é diferente. O único, e restrito à minha pessoa, "acontecimento" que passou a não surtir o mesmo efeito das demais comemorações, pelo menos não mais, são os meus aniversários. Não que sejam insignificantes ou que eu não simpatize com essa data. Ultimamente até andei espalhando que aniversários são verdadeiras furadas. Talvez fosse para me convencer {o que, diga-se de passagem, não foi de eficácia 100%}. Tomei liberdade de usar até o discurso manjado de um sistema maior que nos obriga ao consumo a todo momento. O qual se aproveita dessas ocasiões para arrancar-nos um ror de dinheiro, transformando a data em mais uma celebração puramente comercial. Tornar essa bestagem (ou não) pública só me conferiu um status de azedo, ranzinza e mal amado.

O problema com a data em que acrescento mais um verão à minha vida passou a existir há alguns anos. Prá "jogar a real" desde que tomei consciência da frustração que é um 7 de Dezembro na minha vida. Desde sempre eu esperei demais das coisas {logo: ranzinza só pode ser sua mãe, porque eu mesmo é que não sou!}. Quando criança, odiava-o por a data ser sempre muito distante. Afinal, precisava percorrer todo um longo ano prá, finalmente, subir em cima de uma cadeira e me sentir triunfante frente ao bolo. Também me entristecia bastante por presenciar aquela série de aniversários na escola. E o meu nunca acontecia. Pelomenos não durante um ano letivo {hoje, obrigado, Deus! Tenho ciência da alegria que é não fazer aniversário em plena quarta-feira de Março}. Superados esses traumas (juntamente com essa faixa etária): o que passou a me incomodar {muito} foram os presentes. Como todo aborrecente são, odiava ganhar roupas {vale salientar que esse ódio ficou no passado. Portanto, devido à carência da minha atual existência, quem se sentir tocado com essa súplica pode, SIM, me ofertar uma peça de roupa! Tcharam! Promoção de fim de ano: Faça um maltrapilho feliz nesse Natal! Grato}. Se não bastassem as infelizes roupas: Lembro-me como se fosse hoje quando ganhei uma agenda para números de telefone (presente topNONSENSE). A qual, não desmerecidamente, continha uma caneta {que nem prá prestar servia} devidamente acoplada à capa. O mais frustrante era que o presente poderia ter vindo de qualquer pessoa... Mas a punhalada veio do seio da minha família! Minha própria mãe, desde esse tempo, adorava me sacanear com "presentes" do gênero... No ano seguinte, a mesma pessoa fez o favor de me dar a caneta que faltava para que eu seguisse a feliz carreira de anotador de telefones. Suprindo assim, o que deixava a desejar no presente do ano anterior. Ainda, durante a transição "pinto-frango", a simples melodia de um "com quem será" era uma verdadeira sentença de morte. Até hoje, ainda não entendi, o por quê dessa bestagem. Um ritual tão lindo, rapaz... {CHEGOU A PARTE DA ANTROPOLOGIA! Visualizem a ""regressão"": Quando crianças (bem criancinhas mesmo), todo mundo adorava exibir possíveis namoradinhas do jardim-da-infância, depois, quando "mais vividos" (tipo uns 6 ou 7 anos), começa o que eu chamo de SSI (Segregação Sexual Infantil) ou seja, menino lá, menina cá. Passada essa fase, cai a massa global de adolescentes na pegação generalizada e daí pra frente, se não houver o que freie esse "descontrole sexual" (uma paixão, um namoro {fiel, rs}, um buxo, um casamento {fiel também, claro, rs}, um celibato, uma ordenação, etc.) a tendência é só piorar. E a meta é a promiscuidade MESMO (HAHAHA)... Eu "si divirto" muito com essas coisas... Enfim,}

Pois é, voltando à era em que disse que sempre esperei demasiadamente de muita coisa {e que o ranzinza da história é VOCÊ, junto com sua carrada de familiares. Até porque ranzinzas que se prezem só esperam, SE é que esperam alguma coisa, "essa coisa" é o pessimismo e a "alegria" de poder jogar em sua face um "doce" na linha de: "TÁ VENDO? EU AVISEI! MAS VOCÊ NÃO ME ESCUTA, IMBECIL!..."}. Quando eu digo que sempre esperei demais de tudo, sobretudo em aniversários, é o motivo pelo qual, ATUALMENTE, sou desiludido com essa confraternização. Quando lembro de um aniversário de alguém querido, procuro sempre nem que seja mandar, no mínimo, um recado bem "dahorinha". Se me falarem de festa-surpresa eu dentro, sempre dou abraço, {se der} faço carta, {se der} ligo... Tudo bem que no quesito PARABENIZAÇÃO eu sou um ótimo plantador de tomate, mas porra, me esforço BASTANTE!... Pois é, geralmente, nos meus aniversários eu espero coisas maiores legais, e nunca acontece nada (desabafei, cara...HAHAHAH). Tudo bem que no último aniversário nem o capeta me encontrava, mas algumas pessoas ainda me acharam e deram aquela ligadinha-amiga-parabenizatória! Do fundo do meu coração: fizeram um indigente muito feliz! {A vocês, poucas pessoas que se lembram da minha existência, e de que eu faço aniversário, o meu sincero: MUITO OBRIGADO! E que a Paz de Cristo esteja contigo, Irmão!} Se você, gohst, não leu o post anterior, de antemão eu aviso que sou uma pessoa desgovernada, e por consequência do destino, sou muito carente (desabafei novamente, cara... HAHA). Eu tentei, juro que tentei, não gostar de aniversários. Mas no fundo eu gosto. A partir de hoje {além de assumir um compromisso com a paz mundial} vou aproveitar essas datas anuais prá fazer um pensamento "bacana-positivo" e tentar segurar esse meu ego carente. Prometo que vou tentar!

No mais, as outras comemorações de fim-de-ano, eu gosto por gostar, mesmo. Acho bonita e interessante essa cultura. Essa "beleza" não quer dizer que elas, contrastando com os aniversários, sejam sempre maravilhosas. Nos últimos dois anos, meus Natais se resumiram ao entupimento alimentício {não que eu ache ruim... Descobri AGORA o por quê de eu apreciar o Natal! Com toda certeza, além de outros agradabilíssimos paleativos, é a comida! ! Passo todo um ano me alimentando de mal a pior e quando chega o Natal, camarada... Ah, o Natal... Acabei de cavar meu buraco com destino ao inferno com essa confissão. Que vergonha... Resumi uma data tão importante à mera tiração-de-buxo-de-miséria... Perdão, Senhor!}. Gosto muito do natal. PONTO.

Já as Viradas de Ano, na última que vivenciei, descobri a autonomia que possuo para fazer meu próprio marco inicial de Ano Novo! {Faça o seu também! Basta pegar uma garrafa PET, uma tesoura sem ponta...} Em meio a uma maré de desânimo, surtiu uma súbita alegria, advinda de não sei onde {prá onde ela foi, e nunca mais voltou eu também não sei. Só peço que a caridade que me foi feita se repita a cada 365 dias! *seguindo também as particularidades de anos bissextos too}. Lembrarei para todo o sempre....

Diferentemente dos anos anteriores, passei "REVEION" em uma cidadezinha do interior. Foi ótimo. A bandinha fazendo um som lá, e um Murilo quase que possuído por "ecstasy" pulava cá. Felizes recordações...


Declaro, pelos devidos fins, que estou de braços abertos ao fim de ano! E que assim como o Pálio que ele "renove os meus conceitos" cada vez mais {otimista por fim das forças modo on}.

UMA LEGIÃO DE COITADOS

e foram exemplares de similar irmandade que me acordaram em algum dia desses. compondo um apocalíptico conjunto.

sábado, 14 de novembro de 2009

SANTA INSÔNIA

Eu não sei se o problema é comigo, ou se é com eles. Mas hoje repetiu-se a história de buscar por alguém e os alguéns do mundo inteiro sumirem. Por mais que me incomode, já estou habituado.

Hoje: Típico dia em que se acorda em off por algum motivo ainda desconhecido. Típico dia em que fui da cama ao camarote da minha vida. Anestesiado por dentro e fora. Apenas observando de novo e novamente a única coisa que "possuo": minha vida. Olhando de frente(ou não), sem nem ousar mexer os fios da marionete.


Há quem diga que de fora, as coisas são mais claras. Realmente são. O problema é que quando se está por dentro, quando se vivencia, há a compreensão real. Há compreensão interiorana. Quem vê de fora apenas enxerga o que transparece. Se é que transparece alguma coisa além da feiúra. Há tempos tomava essa postura de ''ver-de longe'' e não sabia. Há algum tempo, quando "me cansei de lero-lero dei licença e resolvi sair do sério", lutei pelo meu governo. Tentei tomar as rédeas. Não há o que se fazer. Não há golpe que me bote no trono de mim mesmo. Nas programações de um futuro próximo o certo será ver a vida passar. Não é tempo nem hora para intervenções. Digo: Não há espaço para intervenções SUAS {minhas}. Porque as advindas de terceiros sempre irão surgir. Quando será, então, que haverá espaço para as minhas? Ah, sonhada autonomia, "abra as asas sobre mim", pelo amor de Deus!

As pessoas tomam suas decisões e o papel que me cabe, nesse momento, é apenas a adequação. São nessas horas em que vejo a síntese de uma pessoa. São nessas horas em que há um desprendimento. São nesses momentos em que o escencial vem à tona. Joga-se tudo para o alto. Pára-se para pensar. Elaboram-se planos B's, C's, Z's... Ao final de tanto martírio e peregrinação a desgraça da iluminação de rabo de túnel sempre vem...

A postura distancial é constantemente abalada por choques que também vêem de fora. Ao mesmo tempo em que, em alguns casos, é cobrada a neutralidade, a parcialidade também se faz presente em {quase} tudo. {Digamos que depende do grau de participação física do idiota. Por exemplo: Visualize uma casa, onde, em um primeiro momento, moram completos desconhecidos. Apartir da interação constante, esses indivíduos, certamente, vão se estabelecer laços (positivos ou não - a qualidade não importa) Laços esses que permitirão intervensões de uns na vida dos outros. Até mesmo se existir lá uma excessão. Uma pessoa que, diferentemente dos "responsáveis", não faz questão de quase nada. Sequer de muita burocracia relacionamental. Tipo um Murilo que, além de lindo, maravilhoso, ÇEKSY e 'umilde' acredita ser "insento" de qualquer contato além dos "bons-dias" com terceiros. Apartir de um dado momento, de tanto me verem olhando pro teto, de braços cruzados, de tanto a minha participação física se fazer constante aos olhos dessas pessoas, as mesmas começarão a me cobrar mais participação. Me cobrarão mais ação. Ação essa que se eu (do alto do meu status de desgovernado-NONSENSE) não promover estarei interferindo diretamente na vida dessas pessoas. NÓS AQUI NA MAIOR INTERAÇÃO DE DEUS E ESSE "@#$%$*&$¢" NÃO FAZ P.N.? NOWAY, CARA-PÁLIDA! Digamos que me cobrem atitudes em prol da coletividade, {até porque todos tomam essas atitudes e eu, em teoria, tenho de tomá-las TOMÉM} como: ajudar na limpeza da residência, ou comprar o "prisunto" de cada dia... No caso, se eu não tomar "postura de gente", e não fizer questão alguma de cumprir com minhas obrigações, a corja prejudicada pela ausência de "prisunto" no café-da-manhã se voltará contra mim. São nessas horas em que pessoas desgovernadas precisam tomar decisões. No caso, de lavar - ou não - a casa, ou comprar -ou não - o presunto.}Por isso é que, não há isenção total e a atuação dos desgovernados, é necessária à paz mundial. Pessoas desgovernadas sempre, daqui ou dali, se pegam em delegações. Nem que essas sejam para se optar em qual esquina virar, qual será a cueca do dia... Até porque gente desprovida de governo ganha esse status porque quando acha de intervir em alguma coisa (realmente importante), o faz de forma estrondosamente errada. {do tipo: "não há ninguém no mundo que me faça comprar a porra o presunto, e quero mais é que a casa se exploda em sujera!" CLARO QUE ISSO NÃO É REGRA! Em maioria (ou não) quem é desgovernado, geralmente, é boa pessoa. Ou seja, incapaz de fazer tamanha safadeza. Agora acerca dos NONSENSE's, todo cuidado é pouco...}

Já disse Murilo um dia:


"UM QUÊ DE PÉ-ATRÁS NUNCA É DEMÁS"

A tranquilidade acabou. Quem quiser viver, viver MESMO. Atuar no tempo e no espaço. Com todo o sólido, todo o gás, e todo o líquido: tem de entrar em pânico. É muita cobrança, muita programação, muita ação, muito pensamento, muita agonia, muito pouco tempo e muito pouco dinheiro... Se não tiverem não apenas uma válvula de escape, mas um duto de 1Km de diâmetro para canalizar as frustrações, e raivas adquiridas, inevitavelmente, ao longo do percurso meros mortais não têm capacidade de lidar com todo esse turbilhão de informações sem entrar em parafuso. Portanto, quem deseja a calmaria, OBRIGATORIAMENTE, precisa se situar à margem. Estando eu ao lado da paz, até porque meu status de desnutrição anêmica não me permite gastar energia com bestagem (rs), eu quero mesmo é "uma rede preguiçosa prá deitar"...


Além de se situar à margem, desgovernado que se preze é carente. Talvez pela falta de atuação e opinião própria, precisam sempre daquela pitada de voz amiga - motivo esse que me fez peregrinar em ligações quase que intercontinentais em busca não só de conselhos, mas de incentivo para que não desaprendesse a falar. {Não que a fala livre alguém da inexistência}. Veja bem: eu disse vozes AMIGAS. Não se enquadre, nem tampouco se inclua nessa restrita categoria. JAMAIS subestime gente destrambelhada. Não se sabe do que são capazes quando pegam as rédeas e partem pra cima de você, pentelho-opinador, com intuito de tirar a ligação entre seu pescoço com a cabeça. Portanto: keep out até segunda ordem. Todo cuidado é pouco. Nada impede que um corpo vazio seja tomado por um espírito imperador e subitamente, passe a se governar até demais.

Andei, andei, andei. A nenhum lugar cheguei. O que uma insônia não fizer: nada no mundo faz. Eram muitos pensamentos desconexos. Comecei toda essa porcariada querendo falar de uma coisa terminei por findar em outra. Já estamos às 4:30 da manhã. Ainda bem que Domingo é dia de reabilitação mental.

PS: A pequena sugestão é: não custa nada atender o telefone, rs.

(fuma, fuma, fuma. folha de bananeira...)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A VIDA RI-SE DAS PREVISÕES, PÕE PALAVRAS ONDE IMAGINÁVAMOS SILÊNCIOS E SÚBITOS REGRESSOS QUANDO PENSÁVAMOS QUE NÃO VOLTARÍAMOS A ENCONTRAR-NOS.
(J.SARAMAGO)