domingo, 26 de setembro de 2010

AS FALSAS PARALELAS

Uma vez me disseram que não existem retas paralelas. Sim, elas existem, mas não permanecerão assim: sem se tocar para todo o sempre. É que elas, por serem retas por excelência, são infinitas. E o infinito sempre se junta no horizonte. Inevitavelmente.
Portanto, para quem fica atrás - e vê as falsas paralelas se estendendo - também verá que um dia essas ficarão unidas. Juntas lá na frente. Lá: onde é o limite da visão. Nem que seja por ilusão de óptica.

Após esse enunciado, desculpe-me, mas não pude deixar de pensar em nós. E um fio de esperança se acendeu. Porque os números, diferentemente das letras, nunca mentem. É, as letras muitas vezes dizem coisas completamente avessas ao que realmente está por trás. Aquilo que, por vergonha ou capricho, prefere se esconder... Mas isso é outro assunto. E eu não quero desviar-me da minha cronologia, da minha linha, da minha reta.

Onde eu parei? Ah!, nos números e em nós.

Minha esperança se acendeu porque se todo esse "prólogo" é pura matemática, então é lei: está provado e é verdade. E eu preciso agarrar-me a essa teoria. Simplesmente porque eu preciso acreditar que mesmo nossas trajetórias sendo tão opostas, e nós estarmos tão distantes, existe algo que sustenta e me consola: a projeção de que um dia eu poderei pegá-la em minhas mãos - e não soltar jamais.

E se eu abandonar-me por alguns instantes - e passar a examinar nossos caminhos - eu quase posso ver-nos lado-a-lado... É, eu preciso acreditar nisso. Sim, eu quero e preciso. Até porque é tudo matemática. E número não mente.

domingo, 19 de setembro de 2010

EU SOU FUNCIONÁRIO, ELA É BAILARINA

Não sei parabenizar, mas sei contabilizar. E ao contrário do que você espalha, Querida Bailarina, sim, os números são muito importantes. A numeração 18, por exemplo: observe a importância que tem.

Este texto é uma humilde oferta. Não chega a ser bem um presente, visto que é um relatório. Uma contabilidade... Um apanhado! Sim, um apanhado das coisas que me fazem lembrar você.

Luas faceiras;
A falta de tradução da palavra estante;
Cabelos longos - que um dia já foram curtos;
Brincar de helicóptero;
Brincar de Mário Bros;
As varandas de uma rede;
Caio Fernando Abreu;
Pizza de 4 fatias;
M. Aydar;
100 Anos de Solidão;
Redes armadas no terraço;
O terraço;
Jornalismo;
Edredom;
Caim - Solimão - Sérgio - Márcia - Andréa;
Brisas Quentes, Ventos Frios;
Invenção de histórias;
"Não, porque nem sempre...";
Aquele projeto de uma história em parceria;
Objetos multifuncionais;
Cantoria;
"Naldinho & Little John";
Um ótimo abraço;
"Se estiver me ouvindo, fala CAJU!";
Temporadas de Caju;
Odaxelagnia;
Piadas;
Rodrigo Amarante;
Keane;
Cîroc;
Hidratação fulltime;
So white as snow;
Ciência Política;
"Acertou quantas questões no concurso?";
Polícia Federal;
Chicabana, rs;
By My Side;
Vitor & Alana & Marcelo;
Escolher um dedo quando horas e minutos são iguais;
She & Him;
Quando alguém se exalta vendo futebol;
Vanessão Maxo;
Santa Chuva;
Kafka;
Xadrez;
Jar of Hearts;
Sousa;
John Lennon;
A história da Velhinha;
Acessoria de Dam&Van;
Little Joy;
Carlinha A.A. / Mona B.A.;
Signos & Quadraturas;
Vênus sabe Deus onde...;
Tarot;
Quando alguém entra em luto por uma bota;
Maria Rita;
Vídeos de celular;
Morangos Mofados;
1408;
"Burn me Alive!";
Your Ex-Love Is Dead;
Regra de 3;
Sono eterno;
Planos de cirurgia plástica;
A Sombra do Vento;
Chico Buarque;
"Acorda, Acorda, Acorda, Acorda...";
Amaranta, Aimê, Lavignia;
"Passa, nuvem negra!";
Laranja Mecânica;
Bolsas;
Desdrobos;
Alguém que já foi do rock;
Prison Break;
Bob Marley;
Uma legião de fãs;
The Carpenters;
Aeróbica no terraço;
"Time-goes-by / so-slowly...";
Diplomatas;
Jogos de montanha-russa;
Óculos bifocal rosa;
Soluções Drásticas;
Rainhas inacabáveis;
Os Bingos;
Triângulo das Águas;
Jussara, Ulla, Gabi, 3Marias (Rita/Ruth/ ?);
Destruição progressiva de aparelho de telefonia móvel;
Pessoas que choram;
Empréstimos que não voltam jamais;
Hoje É Dia de Criticar;
"Pra bom entendedor, meia palavra bas.";
Piracicaba;
Malta (a da Europa.)"
"Cabelo Novo, Vida Nova."
Yoko Ono;
Cantadas Jurídicas;
Alzheimer;
Transtorno Bordeline;
Multiple lovers;
Lasanha;
Escritores de gaveta;

É uma pena que exista mais a ser citado e que, no entanto, não pôde ser. É que minha vagareza atrapalha tudo. Se eu fosse citar, é capaz de o apanhado só chegar na comemoração do ano que vem. Enfim, de todo o coração: feliz aniversário.

sábado, 18 de setembro de 2010

MUSIC IS MY GIRLFRIEND

Não é preciso que eu diga, porque -sozinhas- as pessoas vêem que minha vida é muito sem graça. Destemperada. É por isso que eu preciso tanto da música. Para ser meu fluido, meu sangue. Para que seja, de acordo com seu ritmo, minha pulsação. Eu respiro só isso. Vejo só isso. Mas ouço além - a ponto de de respirar e ver além enquanto ouço. Sou feliz assim, mas quero e devo agitar as coisas: mudar as tonalidades: radicalizar. E que esta venha para elevar ou assentar poeira. Talvez até rasgar todo o colorido e clarear minhas paredes. O importante é que venha. Com ou sem demora.

Eu costumo dizer uma escassa sabedoria: pontuo com trilha sonora a falta de sal dessa minha existência. E que assim se faça por toda a eternidade.

AMÉM.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Meu pai aponta o dedo e diz:
- veja só como locomotivas suportam carregar grandes pesos.

E nesse momento eu me senti a locomotiva mais imprestável do mundo - incapaz de levar qualquer coisa adiante.

sábado, 11 de setembro de 2010

AGRESSÃO

Por mais que eu quisesse, bem sei que não há jeito. Portanto, já que eu não posso pegar-te pelo pescoço e torcê-lo em trinta rotações (para cada lado), eu me conformo em falar de você. Uma pena, mas não é fofoca. Não proclamo sua pessoa a ninguém - para que não pensem que tenho fixação em ti. Mas acostumei-me a escrever teu nome. E escrevo-o sempre com as letras todas minúsculas. É na tentativa de diminuir-te, sim. Para que você murche cada vez mais. E desapareça. Minimize e desapareça!

- principalmente dentro de mim -

Eu sei que é coisa minha, e que isso em nada fere a sua pessoa. É por isso que eu continuo, e não me deixo esquecer. Não atinge você, mas agride a mim. Eu - que sou você só porque você insiste em não sair de mim. Eu escrevo, escrevo e escrevo: diminuindo minha letra cada vez mais. Tudo isso com a intenção de, já que não posso acabar contigo, deixar-te menor. Mesmo que você não suma, quero que fiques menor: para caber melhor em mim. Alojar-te com mais conforto. Porque eu não suportarei que fiques nesse ritmo de crescimento. Tenho medo que não caibas mais em mim.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

COMO FUNCIONA A CABEÇA DE UM INVEJOSO

ENQUANTO ISSO, NA SALA DE AULA...

"... porque cada matéria existente possui a sua respectiva anti-matéria. Quando há o encontro dessas duas unidades - tão iguais e ao mesmo tempo tão opostas - ocorre a destruição de ambas. As duas se aniquilam para que surja apenas energ..."

Seria ótimo se essa lei física valesse, também, com pessoas. Além de sempre existir o seu - exclusivo - lado oposto, melhor seria a união entre os pólos. Quando finalmente alguém encontrasse "a pessoa certa" - e se essa fosse realmente a certa - o par desapareceria. Incrível! Não se incomoda ninguém! Até porque nada mais irritante do que um casal...

SUPONDO O ERRADO

Suponhamos que eu seja uma criatura forte, o que não é verdade. Suponhamos que ao tomar uma decisão eu a mantenha, o que não é verdade. Suponhamos que eu escreva um dia alguma coisa que desnude um pouco a alma humana, o que não é verdade. Suponhamos que eu tenha sempre o rosto sério que vislumbro de repente no espelho ao lavar as mãos, o que não é verdade. Suponhamos que as pessoas que eu amo sejam felizes, o que não é verdade. Suponhamos que eu tenha menos defeitos graves do que tenho, o que não é verdade. Suponhamos que baste uma flor bonita para me deixar iluminada, o que não é verdade. Suponhamos que eu finalmente esteja sorrindo logo hoje que não é dia de eu sorrir, o que não é verdade. Suponhamos que entre meus defeitos haja muitas qualidades, o que não é verdade. Suponhamos que eu nunca minta, o que não é verdade. Suponhamos que um dia eu possa ser outra pessoa e mude de modo de ser, o que não é verdade.

C. Lispector

sábado, 4 de setembro de 2010

BRAAAVO!


Por um acaso surgiu a oportunidade de assistir a peça. Se no saguão não tivesse o único folder - que (graças ao céu) provavelmente foi abandonado por alguém - e se a noite não estivesse ociosa como esteve, talvez eu permanecesse sem ser conhecer uma das melhores noites que a vida me reservou.

Cheguei no teatro sem saber nada. Nem a sinopse foi lida. Desse jeito, não seria difícil que eu me surpreendesse com qualquer coisa. Mas confesso que tudo foi além. A surpresa ficou de lado. Foi abandonada por uma integração muito forte - como se eu tivesse nascido pra estar ali: na platéia DAQUELA atração. Aquilo tudo era meu demais.

O conjunto inteiro foi agradável, começando pelo auditório - pequeno e esfumaçado: perfeito. Deus encarregou-se por colocar-me na segunda fila, quase dentro do palco. Melhor ainda.

A propósito, uma das muitas coisas aprendidas:

"Deus está nos acasos"

Claro que sim! É óbvio que sim! A parte boa é que eu sempre soube disso, HAHA!
Outra observação: foram tantas sequências e falas maravilhosas que, sinceramente, minha vontade era de anotá-las todas - afim de guardar pra posteridade.

Os atores incríveis. Artistas de fato. Encantei-me prontamente por Madame Clessi (Regina Bastos - irretocável!), Roberto (Tiago Luz - é como ele que eu quero ser quando puder ser alguém como ele), Silvia (Martina Gallarza - magnífica) e Paulo (Marcel Gritten - incrivel!).

A mistura de todas as histórias, tão fora e tão dentro do foco... Fantasmas do passado mais vivos do que qualquer coisa... Tudo obra de uma sacada - com o perdão da má palavra - FODA AO EXTREMO! Meus parabéns ao diretor Edson Bueno. E um caloroso salve a Nelson Rodrigues!

Precisei dar vazão à alegria que senti por ter presenciado o espetáculo. Pode-se dizer que a viagem que fiz tornou-se válida por ter vivido essa experiência. Partilhar: essa é a intenção desse texto - fazer jus às mãos que tenho (assim como aprendi na peça). Infelizmente não conseguirei descrever ou passar tudo... E, pensando bem, não quero exteriorizar tudo - quero guardar boa parte comigo. Dentro aqui, por muito - e ponha muito - tempo.

Murilo Franco