segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

QUEM EU SOU?

Eu sou aquele que pára de seguir em frente quando ouve teus passos avançando e vindo ao meu encontro.
Sou aquele que imediatamente retrocede e se esconde atrás da porta mais próxima.
E sou aquele que, enquanto te vê passar, ainda ouve o que dizes destraída.

AVULSO

Se quer me encontrar, procure por lares que não são os meus. E, embora eu insista que sejam minhas, vasculhe por entre pessoas que também não me pertencem. Sim, eu não tenho nada. Aliás, eu tenho só medo de quem está perdido e acha que foi castigado.
Pequei, e a minha cruz é o desejo. É a imensa e urgente necessidade de que todas as pessoas sejam minhas. É querer conquistá-las e trazê-las para morarem comigo embora eu esteja perdido e não tenha lar. Mas o trágico, para mim, é não ter onde guardá-las. E, por não matar minha sede, a vontade só aumenta.
E eu me frustro. Passo a odiar a humanidade e enlouqueço por não ter uma mísera referência. E, por incrível que pareça, esse é o momento exato para me encontrar, porque é quando dou pistas do meu paradeiro. Quando a raiva me domina, procure ouvir minha voz que - calada - xinga a todos por trás de um sorriso. É uma das coisas que sobrou de mim, e que em breve também estará perdida. Ouça-me, porque eu estou te chamando.
Eu imploro:
Por favor, procure por mim. Ache-me porque eu não mais suporto estar tão disperso. Encontre-me para que eu possa fazer de ti o meu único e eterno cais.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

VEM, MAR

E então minha alegria infla ao passo que a população de coqueiros vai aumentando. Meu comitê de recepção. Não vejo mais estrada à frente. O asfalto se perde no horizonte, e eu me perco imaginando que na próxima curva estarei cara-a-cara com o casamento de céu e água. Transportei-me. O clarão do Sol está fechando meus olhos e a areia é quente. O vento quer levar-me para longe, tal qual duna. As ondas arrebentando: gritando meu nome. Não dá mais pra segurar.

Os números que se explodam. Nesses dias só quero a riqueza de maresia no meu sangue. Quanto maior a taxa, melhor. Vem, mar: exorcizai-me.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

DE: MIM | PARA: MIM

Fiz uma extravagância: comprei um pedaço de terra. É, as prestações serão muitas mas terei prazer em pagá-las. Uma a uma. Ah, finalmente um lugar meu... Por hora, além de você, ninguém está sabendo. Guarde esse segredo.
Saiba que se eu não tivesse me encantado, não teria fechado negócio. É realmente uma beleza, garanto. A vista é uma delícia. Tudo muito verde, um tapete de grama, e uma árvore - que ainda é pé-de-não-sei-quê, mas eu hei de ter tempo para provar de seus frutos. De noite aquilo tudo fica uma maravilha. A peça - inteiriça de mármore preto: exigência minha - há de refletir a lua. Cada letra do meu nome chumbada em ouro, é o que importa.
Fui ninguém mas também amei na vida. Ah, finalmente um lugar meu. E que, se eu pudesse, embrulhava pra presente e dava pra mim mesmo.