domingo, 24 de janeiro de 2010

NORDESTE INDEPENDENTE

Já que existe no sul esse conceito
Que o nordeste é ruim, seco e ingrato
Já que existe a separação de fato
É preciso torná-la de direito
Quando um dia qualquer isso for feito
Todos dois vão lucrar imensamente
Começando uma vida diferente
De que a gente até hoje tem vivido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Dividindo a partir de Salvador
O nordeste seria outro país
Vigoroso, leal, rico e feliz
Sem dever a ninguém no exterior
Jangadeiro seria o senador
O cassaco de roça era o suplente
Cantador de viola o presidente
O vaqueiro era o líder do partido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Em Recife o distrito industrial
O idioma ia ser nordestinense
A bandeira de renda cearense
“Asa Branca” era o hino nacional
O folheto era o símbolo oficial
A moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o inconfidente
Lampião, o herói inesquecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

O Brasil ia ter de importar
Do nordeste algodão, cana, caju
Carnaúba, laranja, babaçu
Abacaxi e o sal de cozinhar

O arroz, o agave do lugar
O petróleo, a cebola, o aguardente
O nordeste é auto-suficiente
O seu lucro seria garantido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Se isso aí se tornar realidade
E alguém do Brasil nos visitar
Nesse nosso país vai encontrar
Confiança, respeito e amizade
Tem o pão repartido na metade,
Temo prato na mesa, a cama quente
Brasileiro será irmão da gente
Vai pra lá que será bem recebido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Eu não quero, com isso, que vocês
Imaginem que eu tento ser grosseiro
Pois se lembrem que o povo brasileiro
É amigo do povo português
Se um dia a separação se fez
Todos os dois se respeitam no presente
Se isso aí já deu certo antigamente
Nesse exemplo concreto e conhecido
Imagina o Brasil ser dividido
E o nordeste ficar independente

Povo do meu Brasil
Políticos brasileiros
Não pensem que vocês nos enganam
Porque nosso povo não é besta

(Bráulio Tavares & Ivanildo Vilanova)

DESFRUTE OS ACORDES

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

INDAGA

Eu só queria que toda essa abundância, todo esse "volume de OCO" que eu carrego aqui dentro preenchesse minha vida. Esse eco retumbante que bate-retorna e faz vibrar meus ossos provoca um inevitável incômodo. A verdade é que não me reconheço preechido por tanta solidão. Esse ponto de vista e referencial romântico há de me destruir por dentro. Mas sendo eu vazio, às vezes me surpreendo com a existência de tamanha antítese: me encontro sempre cheio demais. Cansado demais, chato demais e insuportável demais.
Noto que estou mais exausto de repetir que 'eu próprio não me aguento' do que procurar desculpas prá justificar minhas ações, finalizando talvez, em auto-compreensão. Em outras palavras: me suportar.
É mais exaustivo dizer que não me entendo - e que já não tenho mais paciência comigo - do que gastar energia me decifrando. Há algum tempo eu parei com as indagas. Fiz isso até mesmo prá barrar uma outra prévia decisão: a de me explorar até o fim. A fim de saber até onde toda essa porcariada iria dar. Mediante tantas tristezas seguidas e tantos desapontamentos sem rasão aparente, eu decidi investigar. Adentrei meus recantos em busca de respostas. Falta sempre alguma coisa. O que me interessa(ou) é: O QUE? Mergulhei ao fundo. Essa atitude me fez um grande mal.

Sim, sou fraco e estive a beira de um surto contido em várias outras síncopes frenéticas. Acabei com essa expedição. "Fim das entradas e bandeiras". Decidi não mais pensar por dentro. Obriguei-me a tolerar apenas o superficial de mim. Até porque criei um certo trauma dessa cidade interiorana que arrasto a cada passo.

Hoje, bati porta e abri janela. Estou eu em casa novamente. Habito novamente e novamente esse território que disse que não voltaria mais. Talvez as visitas tenham se espaçado, ou então eu nunca saí para tornar a voltar. Quando me encaro muito complexo, compreendo como sendo doentio. É uma doença. Um egoísmo. Há sempre tantas possibilidades, tantos outros mundos, tanta coisa mais importante e urgente a se fazer... é então que flagro-me afundado em mesquinharia: sempre às ruas interioranas da MINHA personalidade.

Não posso prender-me às paredes do que há dentro de mim. Também não posso fixar morada em suposto exterior. Há sempre uma elasticidade que me faz oscilar entre os dois meios. Meios esses que talvez nem existam. Talvez me distraiam, me destruam. Quando muito habito e me fixo a somente um deles, eis que um choque me traz ao real ou ao fictício novamente. Não me governo. A verdade é que governam-me.

A mesma coisa acontece quando me encaixo longe do que me instiga a penetrar nessa alma que sempre me suga. Momentos como esse. Agarrei-me às encostas do que há fora e surpreendi-me com a avalanche de sentimentos, crenças, motivos, respostas e indagas que se proliferaram no meu interior. É a casa desabitada que transfigurou-se em baderna por carência de ordens. Falta-lhe o dono. Torno, hoje a lustrar os móveis, para mais tarde, cansados deles, sumir pensando sempre: "nunca mais retornar".

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

MASÔ

E o que é que você quer que eu faça? Tudo isso me cansa. Estou exausto desse seu hábito recente de estar sempre à beira, sempre a ponto de um desastre emocional. Essa constante catástrofe racional praticamente afogada em soluços e lágrimas, não mais me comovem. O que me irrita é a mania de esconder o que pensa. Será mesmo que eu preciso dessa enchurrada de testes idiotas? Sim, porque só podem ser testes dessa sua mentalidade doente. Qual é seu problema? Dói expressar o pensa de cara, na lata? Ou sera que preciso, mesmo, descobrir o que pensas? Decifrar os teus códigos? És imbecil. Somos imbecis.
Inicialmente sempre concorda comigo, mesmo que por dentro haja total discórdia. Como se esperasse ver o limite, enxergar o horizonte, até onde serei capaz de ir. Antes mesmo que eu chegue ao meu objetivo, cospe tudo o que pensa a respeito. Frustra sempre tudo o que não tem no planejamento a hipótese de dar errado. "Já que fostes longe demais, corto-te". Corta-me, amputa-me, rasga-me, dilacera-me por dentro. Penso que sou permissível aos seus atos. A passagem está sempre livre, por mais que na última briga eu tenha anunciado fim. Anunciado um "basta". Sou vulnerável a ti. Como isso me irrita. Não tenho coragem de abandonar-te. Portanto, é como se me auto-massacrasse. Esse masoquismo psicológico me algema. Preciso sempre da sua opnião que, fatalmente, põe tudo a perder.
Essa sua conduta pré-disposta à vilania me atordoa. O engraçado é que só eu sou enfeitiçado. Você, quando não está em crise, domina a situação. Ri-se de mim, por dentro e por fora. Debocha do escravo. Escravo que aguenta sua lama e drama. O terror permanente é sempre na minha vida. Seu choro me comoveu. O meu te fortaleceu. Dessa vez é o fim. Não sou obrigado a aturar-te. Suma da minha vida! Saia pela porta, janela, chaminé, fechadura, ou infiltre pelo chão. Suas unhas cravadas em minha alma já se desprenderam. Resta impulsionar sua partida. Suma! Saia!

...antes, porém, me dê só esse último beijo. Não arraste essas malas, não carregue meu coração... Desculpe o que disse... Foi sem pensar!... Não conjulgues o verbo IR em tempo algum. Aliás, se o fizer, que faça assim: VAI! Entranha mais, ainda mais, sangre e perfure esse meu coração. Rasga-o ainda mais com suas unhas. Encha minha existência de ti, ainda que eu não transborde no seu copo nem no seu corpo... Jorre cada vez mais em mim. Nasça, viva e morra em mim. Só em mim. Preciso do seu perdão. Você me perdoa? Mandei-te sair, mas se quiseres ficar sozinha, deixe que eu mesmo saio... Mas se eu sair, posso voltar? Não interessa... Eu volto! Prefiro minha saída com um retorno programado, do que a sua traçando caminhos cada vez mais distanciados. Sou seu. Não preciso saber se és minha. Só preciso sentir minha mão passeando por cada centímetro de tua pele. Entrelaçar-me em teus cabelos, esquecer de mim e do mundo a cada respirar... Seremos só dois. Quero sentir seu calor. Aqueça-me! Mesmo que seu calor e sua presença me destruam. Quero morrer por ti, em ti... Quero saber, e só me importo, acerca de sua presença. Cada vez mais próxima, presença. A proximidade será o combustível para que eu possa estar cada vez mais cercado de ti. Dependo de ti. Usa-me.