sexta-feira, 25 de novembro de 2011

QUE NOME SE DÁ?

Querer pra mim os presentes que dou.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

FIZ TANTOS DESVARIOS


Rompi com o mundo,
queimei meus navios.


Eu Te Amo - Tom Jobim / Chico Buarque

sábado, 5 de novembro de 2011

ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Manuel Bandeira

domingo, 16 de outubro de 2011

½ CHEIO

Provavelmente, no dia em que eu souber responder algumas dessas muitas perguntas, minha qualidade de vida vai melhorar bastante. Tanto que, não duvido, será bem capaz que eu viva uns sete anos a mais. Daí que minha conclusão em linha reta, minha certeza única, a propósito, é que talvez eu não esteja disposto a pagar esse preço. É melhor não ir além. De modo que prefiro mesmo é enxergar pontos finais nessas minhas interrogações.

sábado, 3 de setembro de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

SOLSTÍCIO

Não quero que a claridade só esteja lá fora. Até porque tudo já acontece no exterior de mim, inclusive você. Embora seja insignificante o meu querer, eu tenho essa pouca fé de que um dia as coisas deixem de estar tão desajustadas. Os muitos acontecidos lá de fora me excluem, de modo que fico eu nesse escurecido desamparo eternamente. E por que tudo só acontece longe de mim se eu quero tanto você, meu Sol? Se chegue, abandone essa grandeza e venha ser estrela miúda aqui dentro de mim, vem me causar a insolação interiorana de que eu tanto me recordo sem jamais sequer ter vivido.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

domingo, 7 de agosto de 2011

LÁGRIMA


Lágrima - Roque Ferreira

Eu vou lembrar de uma dor que não chegou ainda.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

ROBERTO, ERASMO E A TRANSLAÇÃO

Quem diria? Incrivelmente, eu, que nunca pensei que deixaria de cantar Você Não Sabe ou As Canções Que Você Fez Pra Mim, agora posso - sem peso, porém, baixinho, que é só para que você me ouça martelar ao longe - cantar Detalhes.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

AMOR DE FREEZER

Quando se é criança, o cosmos oferece uma probabilidade deveras enorme para que sejamos belos. Falo dessa beleza rasa, mesmo. Estética. Não fugi à regra, tanto é que uma das coisas que mais ouvi, enquanto piá, era que muitas moças se congelariam por mim. Será que ainda fazem isso?
Entre aleatoricidades e coisas da vida, não é que hoje eu estive pensando nisso e me ocorreu um insight? Seguinte: acho que talvez eu já esteja pronto para tirar uma delas da geladeira.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

PARADA CARDÍACA

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.

Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

Leminski

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tom Jobim, Vinicius de Moraes - Eu Não Existo Sem Você


VERÃO

    "Este fevereiro azul
    como a chama da paixão
    nascido com a morte certa
    com prevista duração

    deflagra suas manhãs
    sobre as montanhas e o mar
    com o destino de tudo
    que está para se acabar

    A carne de fevereiro
    tem o sabor suicida
    de coisa que está vivendo
    vivendo mas já perdida

    Mas como tudo que vive
    não desiste de viver,
    fevereiro não desiste:
    vai morrer, não quer morrer,

    E a luta de resistência
    se trava em todo lugar:
    por cima dos edifícios
    por sobre as águas do mar.

    O vento que empurra a tarde
    arrasta a fera ferida,
    rasga-lhe o corpo de nuvens,
    dessangra-a sobre a Avenida

    Vieira Souto e o Arpoador
    numa ampla hemorragia.
    Suja de sangue as montanhas,
    tinge as águas da baía.

    E nesse esquartejamento
    a que outros chamam verão,
    fevereiro ainda agonia
    resiste mordendo o chão.

    Sim, fevereiro resiste
    como uma fera ferida.
    É essa esperança doida
    que é o próprio nome da vida.

    Vai morrer, não quer morrer.
    Se apega a tudo que existe:
    na areia, no mar, na relva,
    no meu coração - resiste."

    Ferreira Gullar

domingo, 17 de abril de 2011

GAME OVER

Só me diz o que é preciso para entrar no seu jogo de uma vez por todas. Ensina-me a estar estritamente de acordo com seus planejamentos. Manipula-me para que eu agora seja diferente. Eu, que sempre estive aos poucos, quero - mais do que nunca - ir de uma só vez. Sem olhar pra trás, sem olhar pra frente. Que é pra avançar feito louco nas fases desse seu vídeo game e ter a sorte e a chance de acabar logo com isso ou morrer antes do fim.

COLHERINHAS

"Quando eles se deram conta de que a posição que adotavam para dormir tinha um significado psicológico importante, ficaram extasiados. Recém-casados, sabiam que se amavam muito. Mas não tinham pensado que seus próprios corpos exprimiriam isso. Eles eram as colherinhas; tais como as colherinhas na gaveta de talheres, encaixavam-se maravilhosamente um no outro. Dormiam acolherados, como dizem os gaúchos. E a partir daí passaram a chamar um ao outro de "colherinha". Os amigos achavam graça, mas a verdade é que eles eram o exemplo do casal perfeito.
Contudo, as coisas mudam. Já no final do primeiro ano de casamento começaram as brigas. Descobriram que não eram tão parecidos assim, que seus gostos diferiam muito. O resultado disso é que, na cama, já não adotavam a posição de colherinha. Ficavam os dois de costas um para o outro. Ele roncava, e ela, impaciente, o cutucava com os dedos, que pareciam os afiados dentes de um garfo. Ele respondia com frases agressivas, cortantes como a lâmina de uma faca afiada. Acabaram se separando. Ela ficou com o apartamento, onde agora dormia sozinha numa cama de casal que subitamente se tornara imensa. Ele se mudou para outra cidade e não dava notícias.
Ela aguentava firme, mas um dia desabou. O dia em que, abrindo a gaveta dos talheres, viu as colherinhas perfeitamente encaixadas umas nas outras. A imagem da harmonia, a imagem do amor.
Pensou em mudar de país. Pronta para viajar, bateram à sua porta. Era uma entrega para ela.
A bela caixa de veludo, ela abriu com os dedos trêmulos. Ali, amarradas com um caprichado laço de fita, estavam duas reluzentes colherinhas, devidamente encaixadas. A campainha voltou a soar. Ela correu para abri-la. Sabia que a felicidade estava chegando."

Mocyr Scliar

terça-feira, 8 de março de 2011

MAL AMADA

Aconteceu na hora que fui avisar que o jantar estava pronto. Com uma mesa posta e uma família me esperando. Foi quando o acaso me valeu o dia e eu pude subir ao céu. De alguma forma, senti que o paraíso não é o bastante.
Tive de conter a fome e esperar pelo momento certo para não comer sozinha outra vez. Com o jogo finalmente no intervalo, fui atrevida, entrei na sala e desliguei a televisão. "Chega. Agora é hora da janta!"

Minha última lembrança do dia foi ver minha família correndo para a mesa. Sequer me recordo de vê-los comendo. O dia acabou por ali.

Fui fisgada por uma sensação repentina, avassaladora e louca. Não podia estar mais desarmada. A sensação? Não preciso saber se ela tem ou não um nome. Certa estou é de que nunca a senti antes. Era um misto de força e desejo. Eu: desejada enfim. Aquela tela chupando meu braço. Senti o eriçar de cada pêlo. O magnetismo me queria por inteira. E eu me dei sem medo.
A vontade se fez plena. Derrubei pano de prato, a panela de pressão gritou.

Acordei suada, ofegante e sentindo o revirar dos olhos. Se o prazer existe, eu estive nele. A escuridão reinava e o calor reforçava a minha saudade. Morreria por um pouco mais. Tentei, mas não pude calar a vontade. Vergonha nenhuma tiraria de mim o gosto de sentir-me existente outra vez.

Arrastando-me pelas paredes, em estado de desejo latente, acabei na sala. O cheiro dela havia me guiado até lá. Estávamos separadas por um passo quando o inesperado se fez acontecer novamente. Atirei-me em seus braços, mas de nada valeu a investida. Minha amante, fria, já não me desejava mais.

terça-feira, 1 de março de 2011

O ANJO MAU

Para me educar quando criança, minha mãe advertia que toda a comida que sobrava no meu prato dava de comer ao anjo do mal. Eu morria de medo mas nem por isso comia tudo. É que o cinismo falava mais alto e eu só podia ser "bom de garfo" na casa alheia.
Costumava esconder cubinhos de chuchu embaixo da geladeira ou jogar meus desagrados no poço de ventilação do prédio. E essa comida sempre tinha desaparecido quando eu ia repor o estoque. Era a fome dele que comia e come tudo. E se hoje ele está vivo e solto por aí, foi porque eu o alimentei.
Mil perdões.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

EM NOME DE DEUS

Eu nunca pensei que pudesse querer
alguma mulher como quero você.
Se o mago soubesse
e juntasse o meu nome em S
ao seu nome em C.
Nas cartas de todo tarot que houver,
em todo o I-Ching eu podia não crer.
Mas tudo é tão verde em seus olhos,
não dá pra não ver.

Você nem se esconda: eu vou procurar.
Você nem se iluda: eu vou lhe encontrar.
Você pode ir e sair e sumir por aí:
que não vai se ocultar.
Eu vejo seu rastro onde ninguém mais vê,
eu pego carona até na Challenger,
e vou nos anéis de Saturno buscar por você!

"Mal te vejo, o coração se agita no meu peito. Do fundo da garganta, já não sai a minha voz: a língua como que se parte, corre em tênue fogo sob minha pele. Os olhos deixam de enxergar, os ouvidos zumbem. E banho-me de suor, e tremo toda. Logo fico verde como as ervas, pouco falta para que eu não morra - ou enlouqueça. Pois o amor agita meu espírito como se fosse vendaval a desabar sobre os carvalhos."

Sem ser João Batista, você batizou
meu corpo na crista das ondas do mar.
E aí me abriu feito ostra
e colheu minha pérola pra Yemanjá.
Agora, que estou à mercê de sua luz,
em nome das águas lá de Bom Jesus,
em nome de Deus, me carregue!
Me carregue e me pregue em sua cruz.

Sérgio Sampaio / Citação: Safo

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

QUEM EU SOU?

Eu sou aquele que pára de seguir em frente quando ouve teus passos avançando e vindo ao meu encontro.
Sou aquele que imediatamente retrocede e se esconde atrás da porta mais próxima.
E sou aquele que, enquanto te vê passar, ainda ouve o que dizes destraída.

AVULSO

Se quer me encontrar, procure por lares que não são os meus. E, embora eu insista que sejam minhas, vasculhe por entre pessoas que também não me pertencem. Sim, eu não tenho nada. Aliás, eu tenho só medo de quem está perdido e acha que foi castigado.
Pequei, e a minha cruz é o desejo. É a imensa e urgente necessidade de que todas as pessoas sejam minhas. É querer conquistá-las e trazê-las para morarem comigo embora eu esteja perdido e não tenha lar. Mas o trágico, para mim, é não ter onde guardá-las. E, por não matar minha sede, a vontade só aumenta.
E eu me frustro. Passo a odiar a humanidade e enlouqueço por não ter uma mísera referência. E, por incrível que pareça, esse é o momento exato para me encontrar, porque é quando dou pistas do meu paradeiro. Quando a raiva me domina, procure ouvir minha voz que - calada - xinga a todos por trás de um sorriso. É uma das coisas que sobrou de mim, e que em breve também estará perdida. Ouça-me, porque eu estou te chamando.
Eu imploro:
Por favor, procure por mim. Ache-me porque eu não mais suporto estar tão disperso. Encontre-me para que eu possa fazer de ti o meu único e eterno cais.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

VEM, MAR

E então minha alegria infla ao passo que a população de coqueiros vai aumentando. Meu comitê de recepção. Não vejo mais estrada à frente. O asfalto se perde no horizonte, e eu me perco imaginando que na próxima curva estarei cara-a-cara com o casamento de céu e água. Transportei-me. O clarão do Sol está fechando meus olhos e a areia é quente. O vento quer levar-me para longe, tal qual duna. As ondas arrebentando: gritando meu nome. Não dá mais pra segurar.

Os números que se explodam. Nesses dias só quero a riqueza de maresia no meu sangue. Quanto maior a taxa, melhor. Vem, mar: exorcizai-me.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

DE: MIM | PARA: MIM

Fiz uma extravagância: comprei um pedaço de terra. É, as prestações serão muitas mas terei prazer em pagá-las. Uma a uma. Ah, finalmente um lugar meu... Por hora, além de você, ninguém está sabendo. Guarde esse segredo.
Saiba que se eu não tivesse me encantado, não teria fechado negócio. É realmente uma beleza, garanto. A vista é uma delícia. Tudo muito verde, um tapete de grama, e uma árvore - que ainda é pé-de-não-sei-quê, mas eu hei de ter tempo para provar de seus frutos. De noite aquilo tudo fica uma maravilha. A peça - inteiriça de mármore preto: exigência minha - há de refletir a lua. Cada letra do meu nome chumbada em ouro, é o que importa.
Fui ninguém mas também amei na vida. Ah, finalmente um lugar meu. E que, se eu pudesse, embrulhava pra presente e dava pra mim mesmo.