quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NOVELA

Já vendi muita cerveja em beira de rio. Um pouco de tudo, nessa vida, já fiz. De arrependimentos, que eu me lembre, só um. Me arrependo de não ter desarmado àquela rede. Maldita rede! Foste tu a culpada. É sua, toda sua, a culpa de eu estar aqui hoje. Assim, hoje. A falha é minha, mas a culpa? A culpa você já sabe de quem é.

Mesmo que eu andasse sem forças... Mesmo que, bem próximo ao fim, eu não fosse capaz de me manter em pé sem que houvessem paredes fincadas à terra e santos cravados ao céu. Mesmo que ostentando "a independência e prioridade dos fatos" eu estivesse cheia até a tampa de sentimentos arrasados. Mesmo que eu fingisse tirar coragem sabe-se lá de onde a fim de de dar continuidade à minha luta diária: bastou que um dia eu esquecesse de desarmar àquele trapo e esse lapso de memória me foi fatal.

Cresci em universo supersticioso. Unhas não se cortam de noite, entra-se em casa sempre com o pé direito, não se costura a roupa enquanto se está vestido nela, gatos pretos à mil metros, quando a faca cai ao chão risca-se uma cruz com a ponta, relógio parado é mau agouro, ver coruja cantando é mau agouro, corvos são - não maus mas terríveis - agouros e viajar sem desarmar a rede em que se dormiu é mau agouro.

Quando em vida, temia toda a sorte de agouros, e mesmo sabendo que os piores deles saíam das retinas alheias não me precavi a tempo. Tem-se até em Bíblia que a arma mais perigosa do mundo são os olhos. Muito cuidado com eles!

Muito embora tenha ostentado bandeira branca e passagem escancarada à inveja, se tivesse outra chance - de quem sabe corrigir esse erro permissivo - não pensaria duas vezes em jamais baixar a guarda novamente. O amor estupidifica. É dos anestésicos, o pior. Hoje, sei que a raça do que eu plantei nas entranhas dessa alma era erva daninha. Me fez sentir invencível no início e abaixo dos derrotados ao fim. Estiquei e endureci as pernas, apontei o nariz ao céu como quem fareja a mais alta nuvem, e, por isso - tão somente por isso - não enxerguei a rasteira logo abaixo.

Lembro-me bem do dia em que pisei pela primeira vez no restaurante. Não era cliente. Era mão-de-obra. Eu o adorava. Adorava o cheiro da comida, o malabares das panelas, meu uniforme, as inscrições nas paredes, a maciez do carpete, o bordado dos guardanapos, o tilintar e ranger de pratos e talheres, os mantimentos refrigerados, a agilidade dos garçons e a música que brotava e se dispersava - nem em elevada, nem em inaudível sonoridade, mas em volume perfeito.

Minha função era simples e curta na ordem, porém de complexidade e "interminabilidade" quanto à execução. Sem problemas. Disposição me sobrava. Limpava todo o ambiente com verdadeira maestria. Tudo isso acompanhada do mais largo sorriso. Ao menos, oportunidades, a vida não me negara. O esfregão ou o que eu usasse na higienização remexia no compasso do JAZZ que era distribuído pelo salão. Toda aquele conjunto de façanhas musicais me inspirava. Era meu combustível. Não abria mão de arranhar baixinho qualquer idioma da voz dos intérpretes. Quando ao banheiro - antes e depois da chegada dos clientes - limpava da lâmpada ao ladrilho do rodapé dançando freneticamente. Afinal, apenas meu reflexo no espelho poderia me observar.

Foi o restaurante a base para o início de uma paixão. Sendo ele o que me uniu ao grande amor da minha vida. Despida de toda a perfumaria das romantizações, narro a profundidade do encontro e a veracidade do sentimento que se sucedeu. De início eram olhares furtivos intercalados com suores e palpitações. Foi entrega mutua. Vê-lo por trás do balcão com aquele jeito calado, sempre atento, sempre prestativo, calculando valores, juntando moedas e somando comandas, me tirava do eixo. Não precisamos de mais do que duas semanas para estarmos juntos. Não precisamos de mais de um mês para dividirmos o mesmo teto. Casamento era besteira, na opinião de ambos. O que um mero atestado de papel fazia em teoria, na prática, não diferia da simples "união de escovas-de-dente".

Aquela prsonalidade às vezes me matava. Era o tipo da pessoa que mesmo tendo todo um embasamento para suas atitudes, não me revelava nada. Tomava suas decisões, muitas delas referentes a mim - referentes a nós - porém não dizia seus motivos. Só depois, de muitos cabelos arrancados, muitas lágrimas corridas, muita raiva, muitos gritos e promessas minhas de pôr um fim em tudo, era que, tomado por quem sabe compaixão, ele compartilhava razões, motivos e explicações para cada movimento, cada articulação. Classifico essa característica como sendo uma espécie de "pudor pela raiz". Avista-se toda a planta - todo o problema - mas a raiz, que às vezes poderia ser a solução, matinha-se protegida. Essa ânsia por minha parte de compreender cada decisão e cada jogada aliviou-se depois de muito sofrimento - ora calado ou gritante. Depois de saber que no fim de tudo ele sempre estava certo: apenas me resignei. Deixei prá lá. Preocupava-me apenas em amá-lo cada vez mais. De formas ainda não descobertas e cada vez mais intensas.

Tomei postura secundária. Confesso que me distanciei dos planejamentos. Deixei-o governar minha vida e os possíveis rumos que a mesma poderia tomar. Desejava um filho, um muito amado e querido filho. Cheguei a me chatear algumas vezes quando ele me vetava esse desejo. A razão sempre ao seu lado: não tinhamos condições. Nossa situação financeira sempre apertada fazia transparecer que o dinheiro não tinha rendimento. Trabalhavamos muito e nossa recompensa não sobrava para o materialismo. Estava estabelecido o entrave para a maternidade. Meu otimismo servia de consolo, empenhei-me ainda mais. Busquei serviços paralelos. Consegui um novo emprego - conciliado ao restaurante - cuidando de crianças. Canalizava o desejo de ter a minha criança com os filhos dos outros. Adotei-os no coração. Todas as vinte e quatro horas do meu dia estavam sendo - na medida do possível e do impossível - preenchidas. Por fazer coisas demais a qualidade em alguns dos mil "empreguitos" tipo "freelancer" ficaram por desejar.

O cansaço grudou aos meus ossos. Toda a incompetência me rendeu problemas de saúde e culminou na minha demissão do restaurante. Já não era mais o vigor juvenil em pessoa. A cruz da idade avançada estava longe de pesar, mas já era capaz, precocemente, de sentir o martelar das chagas. A dor por "darem minhas contas" no meu tão idolatrado trabalho foi imensa, mas tendo meu anjo-da-guarda (mestre em articulações e conhecedor de várias saídas para qualquer que fosse a situação) sempre ao meu lado me amparando - mesmo que na maior parte das vezes pensativo e calado - o clima ruim foi logo superado. Aprendi com esse golpe do destino a aliviar minhas auto-cobranças e a incondicionalizar, cada vez mais, a loucura de sentimentos que se manifestavam em mim por ter ao meu alcance peça tão maravilhosa. Tinha sempre acessível às minhas mãos, pernas, lábios, alma e coração o meu amado. O meu homem. Bastava-me isso.

A rotina retornou. Cuidando da minha saúde, e a pequenos - porém firmes - passos, reestabeleci minha posição frente ao que me exorcisava. Voltei a trabalhar. Reassumi boa parte dos empregos com segurança. Consegui equilibrá-los de forma que não ficassem mal feitos. A vontade de ser mãe, agora mais do que nunca, martelava minha existência. Sentia esse exigente chamar da natureza. Me entreguei a ele. De forma sorrateira, articulei pequenos mecanismos para fazer com que uma gravidez se fizesse presente quase que como uma fatalidade. Esqueci propositalmente os remédios que me infertilizavam e, assim como meu marido, manti as artimanhas e minha meta em sigilo.

Não tardou muito e a positividade dos testes farmacêuticos e hospitalares me conferiu o tão idealizado e sonhado presente. Presentes. Conforme me confirmaram exames posteriores: eram gêmeos. Muito preocupado com o futuro, assim que soube da notícia, o esposo pôs-se a estabelecer metas, parâmetros e programaçõas. Compartilhei por algum tempo suas preocupações mas depois, em face da magnitude do que se anunciava na minha vida, passei a curtir cada segundo que compartilhava com minhas crias, deixando que o tempo ajustasse e designasse o que estava por vir. Sem cobranças. Tranquila com minhas crianças. Toda a obcessão, por mim, cultivada pelo pai delas foi dividida para mais dois. Não cheguei a ser negligente com ele, apenas, como ele sempre dizia, estabeleci prioridades. Prioridades essas que eram questões relacionadas aos nossos filhos.

Inevitavelvente me distanciei do mundo. Deixei muitos dos empregos e fiquei apenas com os mais leves. Até quando eu aguentasse. Trabalharia até que chegasse o meu momento. Permaneci com a creche. Era o único que me garantia amparo quanto às licenças, das quais precisaria dar entrada em breve. Seguindo feliz, modifiquei minha rotina. Pesquisei com várias pessoas toda a série de cuidados que precisaria tomar. Procurava caminhar bastante, sempre por lugares arborizados, contava histórias para a barriga, fazia carinhos e mimava meus nenês. O relacionamento em casa tomou um novo foco. Eu era o centro. Quer dizer, nós éramos. Ele ficara cada vez mais calado, mas isso não me incimodava. Sentia que suas ações falavam por si e seu olhar transbordava o que realmente sentia. Não era preciso palavras para expressar o sentimento que realmente existia. Ele sabia disso e eu também.

Apareceu um convite. Uma conhecida me convidara a fazer uma pequena e tranquila viagem à praia. Dizia ela que faz bem o Sol da praia e os ares do mar... Havia algum dinheiro reservado. Como faltavam por volta de três meses à data prevista para o parto, decidimos que ele iria ocorrer nessa cidade. Cidade praiana. Meus filhos nasceriam próximos ao mar. Cheia de expectativas comprei as passagens. Infelizmente, de última hora meu acompanhante não pôde ir comigo. Prometeu-me que assim que conseguisse uma brecha no restaurante iria me ver, e estaria ao meu lado quando nossos bebês nascessem. Senti sua falta. Aguardava como nunca a chegada. Na praia tudo é lindo. Escrevi cartas, mandei postais e telefonei. Sempre eu. Nunca ele. Dizia que serviço o estava apertando muito... Quando viesse me ver pediria as contas e receberia um seguro desemprego que seguraria, por algum tempo, as nossas pontas...

Faltando pouco mais de um mês, mais ansiosa do que nunca, nervos à flor da pele. Nao durmia mais. Sempre com medo de sentir dores ou de machucar a barriga. Cochilava apenas e tinha pesadelos horríveis. Tudo se tornou muito tenso. Faltavam-me notícias do interior. Enchia-me o saco o litoral. Queria saber como estava a casa. Sabia que toda aquela ansiedade faria mal aos nenês. Em síncope de nervosismo, e por por bestagem, ocorreram atritos entre hóspede e hospedeira. Eu e minha amiga não nos entendíamos mais. Resolvi voltar para casa. Teria meus filhos em minha terra, mesmo. Sem depender de ninguém. Procurei de algumas formas contactar meu marido. Seguindo-se as frustradas tentativas, decidi que seria melhor fazer surpresa. Afinal, depois de tanta saudade: ele iria adorar.

Cheguei em casa pela noite. Horário propositalmente escolhido para que o encontrasse em casa. Há algumas horas ele certamente já teria saído do trabalho. Estaria provavelmente jantando. Quão radiante estava eu preparada para entrar em casa e ser coberta de beijos. Aquele amor que, nos últimos meses, se tornara - de certa forma - ausente me fez muita falta. E não só a mim, certamente. Seus frutos também precisavam se sentir amparados.

Caminhei algumas ruas, pedi que algum conhecido me ajudasse com as malas. Havia comprado pequenos mimos durante a viagem. Encontrei a casa com as luzes apagadas, mas ainda no mesmo lugar e do mesmo jeito que a deixei. O coração palpitava. Sentia cada remeximento na barriga. Abri o portão silenciosamente. Adentrei em passos leves. A porta estava semiaberta. Empurrei-a. A luz do quarto estava acesa. Alguns barulhos abafados. As cortinas do vão da entrada do quarto estavam fechadas. Sombras. Mais de uma pessoa. Quem mais estaria lá? Parei. Escorei-me na parede. Gemidos oscilantes. Não poderia ser! Continuei a ouvir. As sombras se mexiam cada vez mais. Os contornos dos corpos estavam, agora, visíveis. Não pode ser! Ouvi promessas cortadas com beijos que de tão sonoros presumiam-se mais do que ardentes. Juras. Amores eternos. Fugas. Aquele que antes eu conhecia pelo silêncio abria-se em declarações nunca antes dirigidas a mim. Não pude acreditar. Estava agora explicado o motivo da ausência. Não conseguia me mover. Minutos se passaram, eu pregada à parede. Músculos rijos, corpos entrelaçados, risadas e mais beijos fumegantes.

Uma dor enorme entorpeceu-me dos pés à cabeça. Soltei-me da parede. Caminhei sem perceber que pisava o chão. Cheguei ao portão em choro convulsivo. Ajoelhei trêmula no meio da rua. Tudo escureceu.

Acordei na cama de casa. Lembrava de tudo, mas a voz não saia. Aquele que me traira estava ao meu lado. Ares de preocupação. A vizinhança me rodeava. Muita gente. Calor. Ar abafado. Tudo escureceu.

A claridade abriu-me os olhos. Dormira a noite inteira. Ainda estava na cama. Da porta, entrava o esposo. Mil perguntas. Por que estaria, eu, lá? Estaria, eu, após todo o ocorrido, bem?...
Pus-me de pé. Ainda me lembrava de tudo. Estava meio fraca. Os pensamentos estavam às voltas na cabeça. TRAIDOR, TRAIDOR, TRAIDOR! Preferi me manter calada. Antes eu. Antes meus filhos. Preciso primeiro me recuperar... Eu, com essa natureza tão explosiva, nunca, nem em sonho, poderia ter previsto tamanha atuação. Estava sendo, eu, quem fingia. Tamanha dissimulação e sangue frio só poderiam ter vindo por encomenda...

Nos dias em que passei sob o mesmo teto que o "cônjuge", inventei algumas desculpas. Aleguei preferir dormir na rede. Acomodaria-me melhor lá. Na verdade, não me esticara JAMAIS naquela cama infame novamente. Certamente seriam só dias contados. Só precisaria me reestabelecer mentalmente. Articular saidas, planos de fuga e tudo o mais. Será que toquei de papéis com o infeliz? Não há tempo a perder. Mente à todo vapor.

Por dentro, sentia minha alma se esfarelando. Levando junto a saúde - única coisa que ela não poderia levar junto . Meu coração foi o primeiro a desaparecer. Foi o primeiro a esmigalhar-se ao vento. Os segundos se encarregavam de trazer placa de indicação ao iminente esfarelamento do resto do corpo.

Desesperei-me por não me sentir melhor nunca. Verdadeiro cárcere. Pensei em matá-lo. Não, não. A culpa disso não poderia recair sobre mim. Por mais que tentasse me menter ereta por fora, tentando estimular meus pensamentos, por dentro estava tudo arrazado. Não aguentava mais fingir. Não aguentava mais o ver. Não aguentava mais lembrar. Meus filhos não podem sofrer com isso. É hoje que boto um fim em tudo isso.

Juntei algumas coisas. Separei algumas sacolas e as enchi com todo o dinheiro e o que mais havia de valioso em casa. Vivo ele ficaria. Porém, sem nada. Telefonei às escondidas para a amiga que antes me abrigara. Me humilhei e clamei perdão. Pedi ajuda e contei toda a história. Estando o destino determinado, uma vez que a amiga me dera, novamente, apoio, só me restava comprar a passagem. Esperei-o dormir. Juntei tudo. Fechei a porta e deitei a chave no mato. Que o inferno lhe aguarde, traidor!

Mal sabia eu, que possivelmente, o mesmo paradeiro final que desejei a quem tranquei e abandonei em casa, poderia também me aguardar. No calor do momento, esqueci a rede armada.

Embarquei no ônibus com um misto de triunfo e tristeza. Estaria agora em paz? Já não merecia ter passado por tudo isso. Nada fiz para merecer. Já não tinha mais lágrimas. Chorar prá quê? Apartir de agora me resolverei em termos práticos. Não mais confiança e não mais inocência. Chega de viver passionalmente!

Começou como chuvisco e em poucos segundos a tempestade engoliu o veículo. Sem ter onde parar, seria mais prudente seguir, cautelosamente, viagem. Velocidade reduzida. Além do barulho crescente dos pingos que ouviam-se chocar sonoramente nos vidros, fez-se sentir um forte tremor. Uma enorme massa de terra despencou-se acima do ônibus e degladiou a lataria. Muita gritaria, coisas despencando, crianças chorando...

Seguiram-se poucos segundos. Diriam alguns que transcorreu-se o tempo necessário para arrependimentos dos males que foram cometidos nessa vida. Males? Nenhum. Arrependimentos? Só um.

Tudo escureceu.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

ULTIMATUM

Fora tu, reles e esnobe plebeu.
E fora tu, imperialista das sucatas.
Charlatão da sinceridade!
Tu da juba socialista...
E tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles,
e a todos que sejam como eles.
Todos.

Monte de tijolos com pretensões à casa.
Inútil luxo. Megalomania triunfante.
E tu, Brasil. Blague de Pedro Álvares Cabral,
que nem te queria descobrir...

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular.
Que confundis tudo.
Vós, anarquistas deveras sinceros
socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhador
para quererem deixar de trabalhar...
Sim, todos vós que representais o mundo.
Homens altos:
Passai por baixo do meu desprezo!
Passai aristocratas de tanga de ouro!

Passai, frouxos!
Passai radicais do pouco...
Quem acredita neles?
Mandem isso tudo para casa
descascar batatas simbólicas!

Fechem-me tudo isso à chave!
E deitem a chave fora!
Sufoco de ter somente isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas.
Abram mais janelas
do que todas as janelas que há no mundo!

Nenhuma idéia grande,
nenhuma corrente política
que soe a uma idéia grão.
O mundo quer a inteligência nova!
Sensibilidade nova!
O mundo tem sede de que se crie.
Porque aí está a apodrecer a vida.
Quando muito é estrume para o futuro!
O que aí está não pode durar.
Porque não é nada!

Eu, da raça dos navegadores,
afirmo que não pode durar.
Eu, da raça dos descobridores,
desprezo o que seja menos
que descobrir um novo mundo.
Proclamo isso bem alto!
Braços erguidos,
fitando o Atlântico,
e saudando abstratamente o infinito.



(Álvaro de Campos)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

ENTRE MURILO E O FIM-DE-ANO

Não sei bem o por quê dessa ligação entre mim e o finais dos anos.
Existem pessoas que não se interessam pela série de confraternizações dezembrinas {também pelas janeirinas, fevereirinas, marcinas... É uma corja mal amada, MESMO. Rs}. Comigo é diferente. O único, e restrito à minha pessoa, "acontecimento" que passou a não surtir o mesmo efeito das demais comemorações, pelo menos não mais, são os meus aniversários. Não que sejam insignificantes ou que eu não simpatize com essa data. Ultimamente até andei espalhando que aniversários são verdadeiras furadas. Talvez fosse para me convencer {o que, diga-se de passagem, não foi de eficácia 100%}. Tomei liberdade de usar até o discurso manjado de um sistema maior que nos obriga ao consumo a todo momento. O qual se aproveita dessas ocasiões para arrancar-nos um ror de dinheiro, transformando a data em mais uma celebração puramente comercial. Tornar essa bestagem (ou não) pública só me conferiu um status de azedo, ranzinza e mal amado.

O problema com a data em que acrescento mais um verão à minha vida passou a existir há alguns anos. Prá "jogar a real" desde que tomei consciência da frustração que é um 7 de Dezembro na minha vida. Desde sempre eu esperei demais das coisas {logo: ranzinza só pode ser sua mãe, porque eu mesmo é que não sou!}. Quando criança, odiava-o por a data ser sempre muito distante. Afinal, precisava percorrer todo um longo ano prá, finalmente, subir em cima de uma cadeira e me sentir triunfante frente ao bolo. Também me entristecia bastante por presenciar aquela série de aniversários na escola. E o meu nunca acontecia. Pelomenos não durante um ano letivo {hoje, obrigado, Deus! Tenho ciência da alegria que é não fazer aniversário em plena quarta-feira de Março}. Superados esses traumas (juntamente com essa faixa etária): o que passou a me incomodar {muito} foram os presentes. Como todo aborrecente são, odiava ganhar roupas {vale salientar que esse ódio ficou no passado. Portanto, devido à carência da minha atual existência, quem se sentir tocado com essa súplica pode, SIM, me ofertar uma peça de roupa! Tcharam! Promoção de fim de ano: Faça um maltrapilho feliz nesse Natal! Grato}. Se não bastassem as infelizes roupas: Lembro-me como se fosse hoje quando ganhei uma agenda para números de telefone (presente topNONSENSE). A qual, não desmerecidamente, continha uma caneta {que nem prá prestar servia} devidamente acoplada à capa. O mais frustrante era que o presente poderia ter vindo de qualquer pessoa... Mas a punhalada veio do seio da minha família! Minha própria mãe, desde esse tempo, adorava me sacanear com "presentes" do gênero... No ano seguinte, a mesma pessoa fez o favor de me dar a caneta que faltava para que eu seguisse a feliz carreira de anotador de telefones. Suprindo assim, o que deixava a desejar no presente do ano anterior. Ainda, durante a transição "pinto-frango", a simples melodia de um "com quem será" era uma verdadeira sentença de morte. Até hoje, ainda não entendi, o por quê dessa bestagem. Um ritual tão lindo, rapaz... {CHEGOU A PARTE DA ANTROPOLOGIA! Visualizem a ""regressão"": Quando crianças (bem criancinhas mesmo), todo mundo adorava exibir possíveis namoradinhas do jardim-da-infância, depois, quando "mais vividos" (tipo uns 6 ou 7 anos), começa o que eu chamo de SSI (Segregação Sexual Infantil) ou seja, menino lá, menina cá. Passada essa fase, cai a massa global de adolescentes na pegação generalizada e daí pra frente, se não houver o que freie esse "descontrole sexual" (uma paixão, um namoro {fiel, rs}, um buxo, um casamento {fiel também, claro, rs}, um celibato, uma ordenação, etc.) a tendência é só piorar. E a meta é a promiscuidade MESMO (HAHAHA)... Eu "si divirto" muito com essas coisas... Enfim,}

Pois é, voltando à era em que disse que sempre esperei demasiadamente de muita coisa {e que o ranzinza da história é VOCÊ, junto com sua carrada de familiares. Até porque ranzinzas que se prezem só esperam, SE é que esperam alguma coisa, "essa coisa" é o pessimismo e a "alegria" de poder jogar em sua face um "doce" na linha de: "TÁ VENDO? EU AVISEI! MAS VOCÊ NÃO ME ESCUTA, IMBECIL!..."}. Quando eu digo que sempre esperei demais de tudo, sobretudo em aniversários, é o motivo pelo qual, ATUALMENTE, sou desiludido com essa confraternização. Quando lembro de um aniversário de alguém querido, procuro sempre nem que seja mandar, no mínimo, um recado bem "dahorinha". Se me falarem de festa-surpresa eu dentro, sempre dou abraço, {se der} faço carta, {se der} ligo... Tudo bem que no quesito PARABENIZAÇÃO eu sou um ótimo plantador de tomate, mas porra, me esforço BASTANTE!... Pois é, geralmente, nos meus aniversários eu espero coisas maiores legais, e nunca acontece nada (desabafei, cara...HAHAHAH). Tudo bem que no último aniversário nem o capeta me encontrava, mas algumas pessoas ainda me acharam e deram aquela ligadinha-amiga-parabenizatória! Do fundo do meu coração: fizeram um indigente muito feliz! {A vocês, poucas pessoas que se lembram da minha existência, e de que eu faço aniversário, o meu sincero: MUITO OBRIGADO! E que a Paz de Cristo esteja contigo, Irmão!} Se você, gohst, não leu o post anterior, de antemão eu aviso que sou uma pessoa desgovernada, e por consequência do destino, sou muito carente (desabafei novamente, cara... HAHA). Eu tentei, juro que tentei, não gostar de aniversários. Mas no fundo eu gosto. A partir de hoje {além de assumir um compromisso com a paz mundial} vou aproveitar essas datas anuais prá fazer um pensamento "bacana-positivo" e tentar segurar esse meu ego carente. Prometo que vou tentar!

No mais, as outras comemorações de fim-de-ano, eu gosto por gostar, mesmo. Acho bonita e interessante essa cultura. Essa "beleza" não quer dizer que elas, contrastando com os aniversários, sejam sempre maravilhosas. Nos últimos dois anos, meus Natais se resumiram ao entupimento alimentício {não que eu ache ruim... Descobri AGORA o por quê de eu apreciar o Natal! Com toda certeza, além de outros agradabilíssimos paleativos, é a comida! ! Passo todo um ano me alimentando de mal a pior e quando chega o Natal, camarada... Ah, o Natal... Acabei de cavar meu buraco com destino ao inferno com essa confissão. Que vergonha... Resumi uma data tão importante à mera tiração-de-buxo-de-miséria... Perdão, Senhor!}. Gosto muito do natal. PONTO.

Já as Viradas de Ano, na última que vivenciei, descobri a autonomia que possuo para fazer meu próprio marco inicial de Ano Novo! {Faça o seu também! Basta pegar uma garrafa PET, uma tesoura sem ponta...} Em meio a uma maré de desânimo, surtiu uma súbita alegria, advinda de não sei onde {prá onde ela foi, e nunca mais voltou eu também não sei. Só peço que a caridade que me foi feita se repita a cada 365 dias! *seguindo também as particularidades de anos bissextos too}. Lembrarei para todo o sempre....

Diferentemente dos anos anteriores, passei "REVEION" em uma cidadezinha do interior. Foi ótimo. A bandinha fazendo um som lá, e um Murilo quase que possuído por "ecstasy" pulava cá. Felizes recordações...


Declaro, pelos devidos fins, que estou de braços abertos ao fim de ano! E que assim como o Pálio que ele "renove os meus conceitos" cada vez mais {otimista por fim das forças modo on}.

UMA LEGIÃO DE COITADOS

e foram exemplares de similar irmandade que me acordaram em algum dia desses. compondo um apocalíptico conjunto.

sábado, 14 de novembro de 2009

SANTA INSÔNIA

Eu não sei se o problema é comigo, ou se é com eles. Mas hoje repetiu-se a história de buscar por alguém e os alguéns do mundo inteiro sumirem. Por mais que me incomode, já estou habituado.

Hoje: Típico dia em que se acorda em off por algum motivo ainda desconhecido. Típico dia em que fui da cama ao camarote da minha vida. Anestesiado por dentro e fora. Apenas observando de novo e novamente a única coisa que "possuo": minha vida. Olhando de frente(ou não), sem nem ousar mexer os fios da marionete.


Há quem diga que de fora, as coisas são mais claras. Realmente são. O problema é que quando se está por dentro, quando se vivencia, há a compreensão real. Há compreensão interiorana. Quem vê de fora apenas enxerga o que transparece. Se é que transparece alguma coisa além da feiúra. Há tempos tomava essa postura de ''ver-de longe'' e não sabia. Há algum tempo, quando "me cansei de lero-lero dei licença e resolvi sair do sério", lutei pelo meu governo. Tentei tomar as rédeas. Não há o que se fazer. Não há golpe que me bote no trono de mim mesmo. Nas programações de um futuro próximo o certo será ver a vida passar. Não é tempo nem hora para intervenções. Digo: Não há espaço para intervenções SUAS {minhas}. Porque as advindas de terceiros sempre irão surgir. Quando será, então, que haverá espaço para as minhas? Ah, sonhada autonomia, "abra as asas sobre mim", pelo amor de Deus!

As pessoas tomam suas decisões e o papel que me cabe, nesse momento, é apenas a adequação. São nessas horas em que vejo a síntese de uma pessoa. São nessas horas em que há um desprendimento. São nesses momentos em que o escencial vem à tona. Joga-se tudo para o alto. Pára-se para pensar. Elaboram-se planos B's, C's, Z's... Ao final de tanto martírio e peregrinação a desgraça da iluminação de rabo de túnel sempre vem...

A postura distancial é constantemente abalada por choques que também vêem de fora. Ao mesmo tempo em que, em alguns casos, é cobrada a neutralidade, a parcialidade também se faz presente em {quase} tudo. {Digamos que depende do grau de participação física do idiota. Por exemplo: Visualize uma casa, onde, em um primeiro momento, moram completos desconhecidos. Apartir da interação constante, esses indivíduos, certamente, vão se estabelecer laços (positivos ou não - a qualidade não importa) Laços esses que permitirão intervensões de uns na vida dos outros. Até mesmo se existir lá uma excessão. Uma pessoa que, diferentemente dos "responsáveis", não faz questão de quase nada. Sequer de muita burocracia relacionamental. Tipo um Murilo que, além de lindo, maravilhoso, ÇEKSY e 'umilde' acredita ser "insento" de qualquer contato além dos "bons-dias" com terceiros. Apartir de um dado momento, de tanto me verem olhando pro teto, de braços cruzados, de tanto a minha participação física se fazer constante aos olhos dessas pessoas, as mesmas começarão a me cobrar mais participação. Me cobrarão mais ação. Ação essa que se eu (do alto do meu status de desgovernado-NONSENSE) não promover estarei interferindo diretamente na vida dessas pessoas. NÓS AQUI NA MAIOR INTERAÇÃO DE DEUS E ESSE "@#$%$*&$¢" NÃO FAZ P.N.? NOWAY, CARA-PÁLIDA! Digamos que me cobrem atitudes em prol da coletividade, {até porque todos tomam essas atitudes e eu, em teoria, tenho de tomá-las TOMÉM} como: ajudar na limpeza da residência, ou comprar o "prisunto" de cada dia... No caso, se eu não tomar "postura de gente", e não fizer questão alguma de cumprir com minhas obrigações, a corja prejudicada pela ausência de "prisunto" no café-da-manhã se voltará contra mim. São nessas horas em que pessoas desgovernadas precisam tomar decisões. No caso, de lavar - ou não - a casa, ou comprar -ou não - o presunto.}Por isso é que, não há isenção total e a atuação dos desgovernados, é necessária à paz mundial. Pessoas desgovernadas sempre, daqui ou dali, se pegam em delegações. Nem que essas sejam para se optar em qual esquina virar, qual será a cueca do dia... Até porque gente desprovida de governo ganha esse status porque quando acha de intervir em alguma coisa (realmente importante), o faz de forma estrondosamente errada. {do tipo: "não há ninguém no mundo que me faça comprar a porra o presunto, e quero mais é que a casa se exploda em sujera!" CLARO QUE ISSO NÃO É REGRA! Em maioria (ou não) quem é desgovernado, geralmente, é boa pessoa. Ou seja, incapaz de fazer tamanha safadeza. Agora acerca dos NONSENSE's, todo cuidado é pouco...}

Já disse Murilo um dia:


"UM QUÊ DE PÉ-ATRÁS NUNCA É DEMÁS"

A tranquilidade acabou. Quem quiser viver, viver MESMO. Atuar no tempo e no espaço. Com todo o sólido, todo o gás, e todo o líquido: tem de entrar em pânico. É muita cobrança, muita programação, muita ação, muito pensamento, muita agonia, muito pouco tempo e muito pouco dinheiro... Se não tiverem não apenas uma válvula de escape, mas um duto de 1Km de diâmetro para canalizar as frustrações, e raivas adquiridas, inevitavelmente, ao longo do percurso meros mortais não têm capacidade de lidar com todo esse turbilhão de informações sem entrar em parafuso. Portanto, quem deseja a calmaria, OBRIGATORIAMENTE, precisa se situar à margem. Estando eu ao lado da paz, até porque meu status de desnutrição anêmica não me permite gastar energia com bestagem (rs), eu quero mesmo é "uma rede preguiçosa prá deitar"...


Além de se situar à margem, desgovernado que se preze é carente. Talvez pela falta de atuação e opinião própria, precisam sempre daquela pitada de voz amiga - motivo esse que me fez peregrinar em ligações quase que intercontinentais em busca não só de conselhos, mas de incentivo para que não desaprendesse a falar. {Não que a fala livre alguém da inexistência}. Veja bem: eu disse vozes AMIGAS. Não se enquadre, nem tampouco se inclua nessa restrita categoria. JAMAIS subestime gente destrambelhada. Não se sabe do que são capazes quando pegam as rédeas e partem pra cima de você, pentelho-opinador, com intuito de tirar a ligação entre seu pescoço com a cabeça. Portanto: keep out até segunda ordem. Todo cuidado é pouco. Nada impede que um corpo vazio seja tomado por um espírito imperador e subitamente, passe a se governar até demais.

Andei, andei, andei. A nenhum lugar cheguei. O que uma insônia não fizer: nada no mundo faz. Eram muitos pensamentos desconexos. Comecei toda essa porcariada querendo falar de uma coisa terminei por findar em outra. Já estamos às 4:30 da manhã. Ainda bem que Domingo é dia de reabilitação mental.

PS: A pequena sugestão é: não custa nada atender o telefone, rs.

(fuma, fuma, fuma. folha de bananeira...)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A VIDA RI-SE DAS PREVISÕES, PÕE PALAVRAS ONDE IMAGINÁVAMOS SILÊNCIOS E SÚBITOS REGRESSOS QUANDO PENSÁVAMOS QUE NÃO VOLTARÍAMOS A ENCONTRAR-NOS.
(J.SARAMAGO)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

TEXTÍCULO

Cambaleante, saía de mais uma exaustiva sexta-feira. A cada dia aquele verdadeiro inferno era capaz de aumentar ao máximo suas labaredas para lhe provocar a ira. Definitivamente, aquela repartição já não era mais a mesma. Nunca fora, e não seria agora, que voltaria a ser o que já não foi. Os cigarros tragados eram balinhas adocicadas para sua alma vazia. Verdadeiros diluidores do tempo. Resistiria firme e forte, pois não seria aquela grande porcaria burocrática que lhe roubaria o tutano. Não via a hora de poder sair daquele verdadeiro hospício. Finalmente, pondo em prática todo o seu brilhante plano - arquitetado por anos a fio: a cada passo em que saísse - de uma vez por todas – pelo saguão do edifício riscaria um fósforo, queimando toda aquela papelada até que aquele covil de putas estagiárias e cornos infiéis explodisse em um magnífico show pirotécnico - o qual lhe faria verter lágrimas de emoção.
Enquanto os anos não se esgotavam, contentava-se a cada sexta-feira - ao fim do expediente, em bater o ponto religiosamente ao boteco da esquina. Afinal, naquela situação de vida, a felicidade só brilhava no fim do copo.
Desde pequeno, aprendera a se contentar com a companhia da solidão, órfão de pai e mãe, nunca fora digno das preferências femininas, na adolescência se excluía de qualquer multidão e maquinava tranqüilo durante a noite seus atos do dia seguinte. Subira na vida, sempre só. Nunca tivera despesas adicionais ao seu plano anual. Nada lhe fugia dos parâmetros mesquinhos e egoístas de sua existência. Frio e calculista. O que lhe faltava de emoção, lhe sobrava em ambição. Construíra uma vida sólida, impecável e completamente sem sal. Avarento por falta de opção, não era digno de qualquer que fosse a gentileza. Ranzinza e amargo nutria desejos de vingança a qualquer um que lhe dirigisse um olhar atravessado. Durante praticamente toda a vida definhara em um “hotel” moribundo. Um velho, de não poucos, mas pouquíssimos, ou praticamente: nenhum verbete.
Naquela sexta-feira sentira uma vontade descomunal de encher a cara e esquecer as pragas dos estagiários. Durante os últimos 27 anos de repartição, era obrigado a conviver com milhares de estagiários, um a cada mês, e todos com a mesma ambição de tomar lhe o emprego. Nunca os poupara. Relatórios imensos e infundados eram, em verdadeiro mar de ironia e sarcasmo, encomendados a cada três dias pelo ancião pré-cambriano da repartição. Era sem dúvida o mais velho, mas nunca saíra de seu posto. Nunca fora promovido. Sua vida nunca se tornou interessante o bastante para ser especulada nem tampouco alfinetada em fofocas secretariais. Não havia graça em se falar nele. Qualquer piada perdia a graça quando se endereçava ao velho.
Adorava ouvir conversas alheias. Sua língua ardia de vontade de contar o que descobrira durante anos de “pesquisas”. Um ouvinte era o que não dispunha.
O fim de semana passou como um susto. Quando se percebeu, já estava dentro da camisa branca, enforcado pela gravata verde-bosta - manchada de café – outra vez. Era capaz de fechar os olhos e seguir do hotel até o “suplício-seu-de-cada-dia” contando todos os 598 passos. O dia já se iniciava em maus sinais. Chegou ao pé da escada do trabalho e a mesma estava sendo limpa. MIL INFERNOS! Teria de ir pelo elevador. Odiava o elevador. Preferia mil vezes ir solitariamente – e “alegre” – pela escada, escura e podre à umidade e mofo, do que se sujeitar à humilhação de ter de aturar mil pessoas por milímetro quadrado em um “aprendiz de andaime” da 2ªG.M. esturricado de desinfetante. Não bastava a fobia do ambiente, sempre estava abarrotado de estúpidos contando o glorioso fim-de-semana. Aquele empaçocamento ridículo o irritava ao extremo. Sem problemas, respira-se 20 vezes e encara-se o martírio. Não seria uma porcaria daquelas que aniquilaria seu dia pela raiz.
Não foi diferente. Cada um dos 7 transportados que usasse o mais desgraçado perfume. Além do espaço, além das pessoas, além dos desinfetantes, além das conversas - intermináveis até o 6º andar -, os perfumes já eram DEMAIS! O sangue subiu-lhe. Como entrara primeiro - pela falta de costume, teve de ficar ao fundo. DOIS MIL INFERNOS! Passou pelo 6º andar 20 vezes e nunca o deixavam sair. Não daria o gosto de pedir licença. JAMAIS. Na vigésima primeira vez, derrubou quem viu pela frente. Filho-de-puta foi o mais doce adjetivo que ouviu. Quem se importa? Que esse raio despenque direto pro inferno! Finalmente sentou na cadeira, abriu a janela... Estava, enfim, seguro!
Carimbou, assinou, rubricou, leu, (re)leu, mandou, desmandou, respirou, saiu, engoliu café, retornou, sentou... Carimbou, assinou, rubricou, leu, (re)leu, mandou, desmandou, respirou, “bateu o ponto”, enfim: ESCAPOU.
Milagrosamente – graças às horas extras, encontrou o elevador vazio. A escada, dessa vez, não o agradou muito. Principalmente por ter visto o Vieira (casado há 25 anos) entrar com a mais nova faxineira-freelancer pela porta, que, GRAÇAS AO BOM DEUS, “cortava fogos”... Ao 3º andar de percurso, entraram duas moças, uma muito chorosa, por sinal... Dizia-se, por entre soluços, muito triste, muito só... Já inclusive marcara consulta com analista... Bem, não estava... FINALMENTE algo divertido! Eis que o 3º ocupante do elevador – que não as moças, não poupou gargalhadas... Debochou claramente das duas... Riu-se a valer! As duas, muito ofendidas, não agüentaram chegar o térreo, desceram logo ao 2º andar, dessa vez, ao invés de uma chorosa, eram duas... Frágeis imbecís!
... Atravessou, triunfante, pelo saguão! Valeu o dia!


**********


Um ronco estrondoso roubou-lhe o ar! Assustou-se, engasgou e tossiu. Estava ainda com a roupa do trabalho. Certamente caíra na cama e dormira pesado. Que horas seriam? Ainda 2:15... Tomou 20 minutos de banho escaldante, “pensou na vida”, comeu alguma coisa e perdeu o sono. Bolava de um lado ao outro do colchão... Sentia cada mola, ouvia cada passo na rua... Santa insônia... Olhou pro teto e lembrou-se do incidente, do elevador. Ensaiou um riso forçado. Perdera a graça... Pela falta do que pensar, as moças, não lhe saíam da cabeça... Lembrou do diálogo, da tristeza, do terapeuta... Terapeuta?... ANALISTA! ...analista? Analista.
Quando deu por si, procurava no catálogo de telefones, qualquer um que exercesse a profissão. Se lhe faltava companhia: pagava-se qualquer um que lhe ouvisse e aquela pontinha de insatisfação sumiria. Já passara da idade de gastar dinheiro com puta, mesmo... A última lhe roubara até as roupas. Morra no inferno, desgraçada! Clínica de Saúde Mental Santa Zildene..., Não. Saúde Mental o escambau! Não era doido!... Agradou-lhe o nome de um tal de Marcos. “Dr. Marcos”... Doutor a pitomba! Nem médico uma desgraça dessas, é! Ainda leva nome de “Doutor”... É de lascar, mesmo. Pronto. Vai ser esse mesmo. Anotou o número num papel de pão. Pregou no frigobar. Amanhã – logo mais – agendaria a “consulta” com o pseudo-doutor fulano... O sono não chegava. Uma ansiedade besta tomou conta da mente. Abriu a janela, virou o travesseiro, virou o colchão... Não adianta. Ficou a olhar as sombras dos carros que apareciam no teto do quarto.
Levantou-se antes do despertador gritar. Praguejou o dia em que o comprou. Não servia de nada, mesmo. Sempre se levantava antes – nem que fosse um minuto – dele o despertar. Vai ver que pessoas inúteis atraem toda a sorte de inutilidades... Terminou por sair de casa em direção ao trabalho, completamente esquecido do analista.
Bons sinais: escada desocupada. Galgou cada degrau preguiçosamente e ao chegar ao 6º andar notou algo diferente. Muitos olhares em sua direção. Espantosamente, a cada corredor que se arrastava levava consigo, se não todos, boa parte dos olhares de quem se encontrava no caminho. Estranhou bastante. Nunca foram disso... Certamente aquelas mulas o confundiam com um novato. Logo ele...! Jogou as hipóteses pro inferno e continuou a caminhada. Enfiou a mão no bolso de fora da pasta, no compartimento número 3. Apanhou a chave da sala. Qual foi o espanto ao ver que a mesma encontrava-se aberta com algumas pessoas dentro. Desviou o caminho. Correu à copa, bebeu alguns goles d’água, observava a movimentação de sua sala pelas persianas. O entra-e-sai parou e fecharam a porta. Pediu paciência aos céus, porque se Deus lhe desse forças, seria capaz de matar todos aqueles ratos insolentes por terem entrado em sua sala. Encaminhou-se furioso à sala. Mal teve tempo de virar a maçaneta e um “elemento” bateu em seu ombro. Apertou a maçaneta com força, arranhou a porta de leve... Todos os olhares de desprezo foram ínfimos comparados ao que o velho fez para a porta, antes de virar-se. Provavelmente, um estúpido estagiário novato desesperado que, no mínimo, estaria jorrando merda por todos os buracos sem saber onde era o banheiro. Com os olhos fechados, indicou a segunda porta à esquerda. Antes de os abrir soltou um irônico “Bon Apetit, rola-bosta!”.
Rubro não poderia mais ficar quando abriu os olhos e viu a cara de desentendido de seu supervisor. Antes que se desculpasse, ou pronunciasse qualquer coisa, o supervisor o fez entrar na sala. Mandou que sentasse e desenrolou toda uma história sem muito fundamento acerca da história da repartição. Quão magnífica era a reputação da instituição até aquele presente momento. Não seria ele, um dos funcionários mais antigos, que sujaria esse nome. Desentendido, e fora do ar, ensaiou levantar-se da cadeira e perguntar o que houve. Antes que o fizesse o supervisor bruscamente colocou as duas mãos sobre a mesa e aos berros perguntou o porquê daquilo tudo. Seria muito mais fácil entrar na maracutaia da aposentadoria por invalidez... Já que era louco: que tivesse entrado no inferno antes de cuspir no prato que comeu! Mas não! Tinha de fazer toda aquela merda. Que sofresse as conseqüências, velho Maldito! Saiu surrando o chão com os pés. Bateu a porta. Trincou o vidro. Ainda sentado na cadeira, o velho com cara de besta estava, com cara de besta ficou. Estupidificado com tudo o que se passou.
Cerca de 15 minutos após o ocorrido, entrou um desconhecido. Friamente se apresentou como sendo delegado do distrito. Disse ter ido à “casa”, mas não o tinha encontrado. Ligaram para a delegacia avisando que o “criminoso havia comparecido, novamente, à cena do crime”. Colheu algumas informações pessoais e o autuou. O assassinato estava provado. A câmera do elevador havia filmado tudo. Estava preso. Acionasse imediatamente alguém. Talvez um advogado.
Na confusão dos pensamentos e questionamentos apenas só lhe vinha na cabeça o número do analista. Agarrou a lista telefônica. Já sabia onde procurar. Apertou os números do telefone e falou palavras cortadas com a atendente. Felizmente, achou horário vago para este mesmo dia. Uma desistência no período da tarde... Consternado, faltou-lhe a voz. Levou apavoradamente a mão ao pescoço. Gritou sem sair qualquer som.
Acordou em leito de hospital. Olhou para os lados. Sentiu o frio de algemas em um dos braços. Que inferno todo era aquele? A porta se abriu e uma mulher alta cruzou a sala. O reflexo de seus óculos ofuscou sua visão. Incomodou-se com mil fios que o cercavam e aparelhos que o rodeavam. Fixou-se na mulher que se sentou na poltrona ao lado do leito. Olhava-o friamente. Da poltrona, apresentou-se. Na impossibilidade de seu marido, Dr. Marcos pegar o caso, ela, a esposa, também terapeuta, o pegou. Perguntou como o “paciente” se sentia. Fez ares de interesse. Mostrou-se ciente do caso, prometeu querer apenas o melhor. Tomara a liberdade de contatar um conhecido, advogado, que se encarregaria do processo jurídico...
Desabou, então, a lembrança de tudo o que ocorrera nas últimas horas. Domando o pânico e por entre lágrimas, pediu que a terapeuta se aproximasse. Falando algumas palavras desconexas e em um tom de voz muito baixo, obrigou-a a se aproximar ainda mais. Apenas fez-se o tempo de a analista curvar-se para ouvi-lo melhor, o velho, com a mão livre, juntou todos os dutos que nele estavam presos e os enrolou em torno do pescoço da infeliz “pseudo-doutora”. Sem ação, quando veio a debater-se era questão de segundos – e um pouco mais de força – para que estivesse debruçada sobre o velho. Com os olhos duros de pânico. Morta.
Entre risos convulsivos, restou-lhe arrancar o resto das agulhas que ainda não tinham sido desprendidas de sua pele. Ver sangue jorrando o rejuvenesceu. Mal continha as gargalhadas. Os mesmos fios que mataram sua “terapeuta” o levariam direto para o céu. “Afinal: matam-se duas, mata-se uma, simplesmente: mata-se!”. Desenrolou os fios do pescoço da outra, empurrou o cadáver, fez várias voltas em torno de seu próprio pescoço, amarrou na haste do pedestal de soro. Chutou-o. Valeu o dia.

domingo, 18 de outubro de 2009

Quem nasceu Valete, não se mete a Rei.
O amor não vale trinca!
Com a sorte não se brinca, e eu brinquei.

O meu castelo eu fiz na lama, era falsa a minha dama.
Vou procurar esquecer...
Crer* foi o blefe que eu paguei pra ver.

*

Noves fora, quase nada
E era de vidro o anel
Meia volta na ciranda
Não há estrelas no céu

Não tem saudade nem mágoa
Meu amor fala outra língua
De você o que naufraga
De você só o que míngua

Sua graça não me anima
O meu pranto não é seu
Já dobrei aquela esquina
Onde você me perdeu

Foi você quem se perdeu de mim
Foi você quem se perdeu
Foi você quem perdeu
Você perdeu

Vou dizer num verso breve
Pra por num samba-canção
Que hoje a minha vida é leve
Sem você no coração

Hoje tenho quem desvele
Quem me vista à fantasia
Quem escreva em minha pele
Coisas que eu não lhe diria

Hoje a minha vida rima
E agradeço àquele adeus
Que eu vi naquela esquina
Em que você me perdeu

Foi você quem se perdeu de mim
Foi você quem se perdeu
Foi você quem perdeu
Você perdeu

Foi você quem se perdeu de mim!


(Dama, Valete e Rei / Você Perdeu)

sábado, 17 de outubro de 2009

- Err, o que é isso, minha filha?
- Hã?
- O que é isso aqui!? Isso que roda!
- Ah. Sei lá, deve ser um cronômetro...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ultimamente meio sem mãos para escrever. Há alguns temas soltos na cabeça (sem, claro, JAMAIS fugir às origens, nenhum de muita relevância - ou relevância alguma.)

Até um dia desses, o que me motivava era não saber mais escrever mas pelo menos tinha voltado a desenhar. Hoje: nem escrever, nem desenhar.

Tchau, Gohst. Bonjour.

E TUDO MUDOU

"O rouge virou blush
O pó-de-arroz virou pó-compacto
O brilho virou gloss

O rímel virou máscara incolor
A Lycra virou stretch
Anabela virou plataforma
O corpete virou porta-seios
Que virou sutiã
Que virou lib
Que virou silicone

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento
A escova virou chapinha
"Problemas de moça" viraram TPM
Confete virou MM

A crise de nervos virou estresse
A chita virou viscose.
A purpurina virou gliter
A brilhantina virou mousse

Os halteres viraram bomba
A ergométrica virou spinning
A tanga virou fio dental
E o fio dental virou anti-séptico bucal

Ninguém mais vê...

Ping-Pong virou Babaloo
O a-la-carte virou self-service

A tristeza, depressão
O espaguete virou Miojo pronto
A paquera virou pegação
A gafieira virou dança de salão

O que era praça virou shopping
A areia virou ringue
A caneta virou teclado
O long play virou CD

A fita de vídeo é DVD
O CD já é MP3
É um filho onde éramos seis
O álbum de fotos agora é mostrado por email

O namoro agora é virtual
A cantada virou torpedo
E do "não" não se tem medo
O break virou street

O samba, pagode
O carnaval de rua virou Sapucaí
O folclore brasileiro, halloween
O piano agora é teclado, também

O forró de sanfona ficou eletrônico
Fortificante não é mais Biotônico
Bicicleta virou Bis
Polícia e ladrão virou counter strike

Folhetins são novelas de TV
Fauna e flora a desaparecer
Lobato virou Paulo Coelho
Caetano virou um chato

Chico sumiu da FM e TV
Baby se converteu
RPM desapareceu
Elis ressuscitou em Maria Rita?
Gal virou fênix
Raul e Renato,
Cássia e Cazuza,
Lennon e Elvis,
Todos anjos
Agora só tocam lira...

A AIDS virou gripe
A bala antes encontrada agora é perdida
A violência está coisa maldita!

A maconha é calmante
O professor é agora o facilitador
As lições já não importam mais
A guerra superou a paz
E a sociedade ficou incapaz...

... De tudo.

Inclusive de notar essas diferenças"
(Veríssimo)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

LA SOLITUDINE

Eis que o mundo, juntamente com a humanidade,
caminha para os "arquipélagos da individualidade"...


Às vezes no silêncio da noite, você nem se imagina TÃÃÃO "A DOIS"... Não sei por que mas a quantidade de desencontros {não só amorosos} vem crescendo a cada minuto. É, parece mesmo que o fabricante das panelas perdeu o molde das tampas... Há quem diga {e eu sou um dos que diz} que a lei que regia a humanidade {em um passado, como sempre, tão mais feliz} acerca de que "NADA SE PERDE {perdia} NO MUNDO" encontra-se bastante ameaçada com as "imposições externas" que te levam a ser sempre só, rs.

Abaixo a COLETIVIDADE! Hoje em dia comemora-se a auto-suficiência em tudo. {Feliz ou infelizmente} Precisa-se, a cada segundo, sempre menos de outrem para fazer volume na sua solitária existência. "E a tendência é se agravar, não é melhor se engravatar?"

Um exemplo evidente é a tecnologia {musicalmente falando}. Atualmente uma das poucas coisas musicais e interativas chama-se festa. E olhe que vem aumentando o número de pessoas sexagenárias antes do tempo {tipo que nem eu, rs} que ainda - um dia - , Deus ajude, irão descobrir as vantagens e os prazeres de se encontrar no meio de uma multidão. Hoje, todo mundo tem um estuprador-particular-de-pavilhão-auricular (singelo verbete que designa FONE-DE-OUVIDO) acompanhado de algum MP da vida. {Até porque, só a nata de"cafussús" escuta no auto-falante, HAHAH}.

Não diria que é culpa da da indústria... A culpa é da mídia! Descarada, que mesmo SABENDO que hoje em dia "não tá fácil pra ninguém" continua alienando a humanidade com casais à lá Qualy. É de lascar...

Eu até sei que antigamente já existiam anti-sociais depreciativos. Mas no presente o trem saiu do controle. Eu até conheço um "amigo meeeeu" que as vezes - só as vezes - mesmo estando junto com bastante gente, se sente - ÀS VEZES - mais sozinho do que se estivesse realmente só. {Como diz uma fã acolá, rs: eu, err, ELE supera...}.


Pra que companhia? Vai ver a humanidade está evoluíndo para que um dia não se precise mais de nada {nem ninguém} e eu fico aqui divagando... Prá falar a verdade, COITADO É DO CAJÚ. Qualquer dia desses a ciência inventa endorfina em gotas com intuito de acabar com as carências de quem, infelizmente, não teve a sorte de nascer sendo um desenho animado.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

R.I.P.




"No cemitério, pra se viver é preciso primeiro falecer.

Os vivos são governados pelos mortos. Que nada, os vivos são governados pelos
mais vivos ainda
.
E no cemitério, devota alice, nós os ossos,
esperamos pelos vossos."


(Morre-se Assim - Caetano)

sábado, 19 de setembro de 2009

HINO

"Quantos artistas
Entoam baladas
Para suas amadas
Com grandes orquestras
Como os invejo
Como os admiro
Eu, que te vejo
E nem quase respiro

Quantos poetas
Românticos, prosas
Exaltam suas musas
Com todas as letras
Eu te murmuro
Eu te suspiro
Eu, que soletro
Teu nome no escuro


Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença
Palavras são brutas


Pode ser que, entreabertos
Meus lábios de leve
Tremessem por ti
Mas nem as sutis melodias
Merecem, Cecília, teu nome
Espalhar por aí
Como tantos poetas
Tantos cantores
Tantas Cecílias
Com mil refletores
Eu, que não digo
Mas ardo de desejo
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir"

(Chico Buarque / Luís Cláudio Ramos - Cecília)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

CAMINHO DAS ÁGUAS

Existe uma cachoeira. Quando se sabe andar pela trilha, como eu sei, chega-se à nascente do rio em pouco tempo. Por entre o breu d'água só eu {novamente} consigo enxergar cada pedra pela qual o curso do riacho passa por cima. Talvez a visualização me seja facilitada pela constância de caminhadas que realizo por entre a mata.

O que não só eu sei - porque vejo - qualquer um poderia ver se não tivesse medo de enveredar por entre a mata, ou seguir dentro do preto fio d'água que escorre externamente. O que não só eu saberia {ou deveria saber} é o problema "hidráulico" que se apresenta.

O que se passa é a dificuldade imposta "pela natureza". O terreno ficou em aclive. O mato tomou de conta. O rio açoreou, se represou. No caso, foi represado. No começo ele, o rio, estranhava -mesmo tendo passado por isso outras vezes.

De primeiro a água que jorrava da nascente em explosões atômicas ia se acumulando, se aglomerando, se multiplicando na encosta da barragem. Até que de repente {'não mais que de repente'} ultrapassava os pedregulhos da barragem e seguia um curso. Nessas ocasiões, acreditava que teria para onde escoar eternamente...

Houveram tempos em que a vasão passava pra lá de metros pelos pedrões. O rio se apresentava viril e jurava ser capaz de eclodir quem lhe tapava o caminho. Indo, assim, caudalosamente em busca de seu objeto de desejo: Companhia. Estancava pouco a pouco ao se ver em selva inabitada. Ao se ver sozinho, sem rumo e sem destino, frustrado se deixava evaporar. Ou mergulhava na terra e de lá aguardava se tornar barro.

Se "até o perdão cansa de perdoar", com a água: não foi diferente. A nascente zangava-se de ver suas águas sempre reprezadas, desorientadas e sempre impedidas. Dela, então, saíam somente gotas. Gota-a-gota a barragem, mesmo assim, enchia, transbordava e secava.

O rio, quando viu que não tinha mais jeito, acomodou-se. Contou as horas para a morte. A qual, nunca chegava, pois sempre insistia em vasar, da nascente qualquer fio d'água. Qualquer torturante, frustrado e inútil fio d'água. Dessa vez, vermelho. Rubro como a lágrima mais triste.

Privado pelas árvores de ver o céu, pouco lhe fazia questão a cor do dia. Pouco lhe fazia questão se finalmente teria para onde escoar - não mais sozinho...

Acabou por flagelar-se. Sempre que podia - e reunia forças - lançava um gole d'água para além da margem. Às vezes, espatifava-se ao pé das árvores. Secava instantâneamente.

Mesmo afundado na mais triste amargura, cá por dentro sempre guardava a vontade de um dia ver chegar um posseiro às suas margens. Beber de sua água, deitar no seu leito, chafurdar em sua lama. Teria então, utilidade. Mesmo que nunca chegasse ao mar, se lhe houvesse qualquer forma de ser útil em alguma coisa, isso lhe traria grandes felicidades.

Fadado à solidão. Preso à cruz de nunca ter saída, o rio espera a "morte". Até que a ferida cicatrize, e até que outros brotos d'água surjam, a saga do que é "momentâneamente perene" rasga e dilacera aquele que se frustra. Compara-se às águas turvas e sem saída o amor daqueles que não podem amar, não querem amar e não se deixam amar.

"...QUE CHEGA DE REPENTE, QUE MATA E SE DESTROI, QUE ARRASA, QUE CORROI, QUE ACABA SIMPLESMENTE. AMOR QUE SE ENTREGA, AMOR QUE CEGA, AMOR QUE EMBRIAGA, QUE VEM FEITO UM TUFÃO E ABRINDO O CORAÇÃO: SE ESPALHA FEITO PRAGA. AMOR DESESPERADO, AMOR RASGADO, AMOR PROIBIDO. AMOR DESILUSÃO. AMOR EM VÃO. O AMOR NÃO FAZ SENTIDO..."

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

FILHOS

TEXTÍCULO

IDIOTA: era um adjetivo que caía como ninguém naquela personalidade. Só eu sei como me coçei pra perguntar se o fato de dispor tanta idiotisse lhe causava alguma dor. Uma pena, já que a oportunidade não veio. Nem a coragem.

Eu não sei por que, mas eu tenho esse costume de travar verdadeiros duelos com quem me incomoda. E a explicação de eu ter {ainda} meus 4 dentes da frente é que os duelos não saem da circunferência da minha cabeça. RÁ. É tudo mentalmente mentalizado. Cada milímetro. Vai ver que isso acontece pelo fato de eu nunca ter respostas prontas. (Não nas primeiras 24h de conflito - que é o tempo que eu gasto pra inventar {copiar} qualquer resposta cabível). É a velha história de nunca saber o que falar na hora. Depois é que eu fico: Que merda, hein? Dava pra eu ter dito isso...

Só sei que eu alimento essas briguinhas mentais pra suprir qualquer necessidade de sair por cima. Afinal de contas, no dia em que eu inventar uma picuínha na minha cabeça e no fim das contas sair perdendo: eu me mato.

Além de inflar meu "superego" as discussões são hilárias. E como me divertem... Há dias em que nem conseguir dormir dá certo. No calor do momento saem coisas tão engraçadas... O efeito colateral é que dá azia. "Pro-cê-ver" como eu me empenho em brigar, rs...

Mais engraçado ainda é quando há o meu encontro com o correspondente. É preciso toda uma técnica diplomática para se manter sóbrio. Afinal de contas, morrer de rir seria externar toda a parafernalha mental armada para um show que já passou. Um grande defeito meu é não saber "ficar de mau" por muito tempo. Então, sendo as pazes feitas ou não: o pano cai e só muda - mais tarde - o protagonista.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

SOBRE REFLEXÕES REVOLUCIONÁRIAS E FINADOS ÍDOLOS POP

Determinado tipo de coisa, mesmo em dias onde não se tem tempo sequer para respirar, quando chega ao nosso conhecimento, diria eu que nos {me} fazem refletir bastante acerca da flexibilidade da ponta do rabo da largat...rs

Afinal de contas, não é todo dia que se ouve no rádio que um(a) vereador(a) de Salvador, muito sensibilizado(a) com a vinda - há somente cinco mil novecentos e quatrocentos e quinhentos {13} anos - de Michael Jackson (in memorium) ao Brasil, elaborou a mangífica proposta de "condecorar" o finado com o ilustre título de CIDADÃO SOTEROPOLITANO. Mas é evidente que uma informação dessa comove qualquer cristão...

Não acaba por aí. Uma vez que o agraciado com o título cometeu o despropósito de de "ir-se", o jeito seria conceder o título, EM SEÇÃO SOLENE, a algum intermediário. Por que não a algum membro da família? Afinal de contas, em algum dia da existência dos Jackson's seria necessário que descobrissem o que significa América Latina, BRASIL, NORDESTE, BAHIA e SALVADOR... Com toda a certeza, seria uma experiência de magnitude insuperavel!

Dizem que o finado tinha umas criancices acolá... Acredito até que "pegaram na merda" ao prometerem esse título. O cadáver há de estar em incontroláveis chiliques e birras querendo a condecoração (uma coisa trágica e trash como um filho de rico no supermerdado... Até porque na QUIN-TAN-DA da pobrada não tem espaço no chão pra criança pobre ficar rodando e pulando.) Rápido! Chamem a Super Nani do inferno para ensinar boas maneiras infantis ao cinquentão!

"MÃE, EU QUERO BRÓCOLIS!!!"

Eu, por exemplo, acredito que não tenha sido uma falta de educação do finado ao "sair à fancesa" ANTES do "evento". No mínimo, era preciso algum aviso prévio...! Quem sabe, assim, ele resolvesse "adiar" a partida para depois? Deve ser tão mais musical morrer sendo baiano... No mínimo os "anjos" que o conduziriam ao "next level" tocariam berimbau pra ele... Depende. O berimbau seria se ele fosse para o céu. Se o cão viesse buscá-lo, garanto que seria em cima de tum trio elétrico...

"...me leva que eu vou, soonho meu..."

Tá, é humanamente impossivel {ou não} uma criatura passar todo um dia pensando em escrever esse tanto de besteiras... O que REALMENTE me fez refletir bastante (aqui empregado só no sentido de "enfatizar". Até porque para compreender {e saber} o que você vai ler agora não é necessário nem meio neurônio. Nós, BRASILEIROS, desde que nascemos já sabemos disso:)

COMO UM TRABALHADOR QUE GANHA SEUS MIL'S {e olhe lá} SE PRESTA A UM SERVIÇO DESSES? NÃO É POSSÍVEL QUE OS PROBLEMAS COMO A FOME, O DESEMPREGO, A MISÉRIA, A SAÚDE, A EDUCAÇÃO, A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, A DISTRIBUIÇÃO DE TERRAS, A PROSTITUIÇÃO, AS DROGAS, A MORTALIDADE, A SEGURANÇA, (...) ESTEJAM, COMPLETAMENTE SANADOS A PONTO DE OS ""HOMENS-DO-PODER"" SE REUNIREM {quando se reunirem} PARA TOMAR CHÁ DAS 5, OLHAR PRO TETO E ELABORAR PROPOSTAS COMO A DE CONDECORAR UM DEFUNTO QUE GRAVOU UM CLIP NA FAVELA HÁ 13 ANOS E QUE NÃO MUDOU ABSOLUTAMENTE NADA NA VIDA DE ZÉ NINGUÉM E É TRATADO COMO SANTIDADE.


O que me admira, e revolta, é a seriedade com que eles debatem essas futilidades. Dia desse decidiram que pra ser jornalista não é preciso ter diploma. (Me diz, QUEM liga pra isso? Tem alguém morrendo por aprimorar suas técnicas fazendo o curso? Depois tem essa porrada de gente desqualificada que não sabe fazer uma entrevista e "ninguém" sabe de onde veio.) Outro dia, ainda, antes de morrer, um deputado acolá, lançou a proposta dos enteados receberem, legalmente o sobrenome dos padrastos, em nome do laço fraterno que, fortemente, os liga. (Agora me digam: O que é um nome? O que é um PAPEL? É REALMENTE necessário, para que ambos confirmem "votos de amor eterno, até que a morte os separe" que troquem SOBRENOMES? Qualé? Né nem casamento!!)

Nosso ilustre presidente, não pode ficar JAMAIS atrás. Uma verdadeira legião de pessoas envolvidas e engajadas em coletar um milhão de assinaturas em prol de tentar salvar a amazônia, após conseguirem o mais difícil que foram as assinaturas, não conseguiram marcar uma única meia horinha com o governante para entregar o pedido de um milhão de pessoas. Tiveram de pensar em fazer vigília em frente ao palácio pra ver se o cara recebia as assinaturas "pra ontem" e resolvesse CUMPRIR A LEI. Agora, quando o assunto é CÚRINTHIA, em cerca de 5 segundos o camarada arranjou uma brechinha na "atribulada agenda presidencial" para pedir que o vôo com os jogadores fosse desviado para Brasília, onde a "social presidencial" seria mais fácil de ser feita. Será que é de LASCAR? Que nada, tudo isso é fichinha...

\o (Y) o/

É por essas e outras que eu digo:

Se um dia eu for presidente desse país, demito TODOS os vereadores, todos os secretários, sub-secretários, acessores, deputados distritais, federais, nhanhanhais. TODO MUNDO DÉ-METIDO. Deixo só um governador em cada estado e um prefeito em cada cidade (cada um ganhando um salário mínimo). O senado / congresso / palácios? Rá, vira tudo cabaré (só que dessa vez, OFICIALMENTE. Tanto que quem for administrar não vai sentir nem diferença entre passado-presente.) aí sim o Brasil será uma potência mundial e crescer como ninguém.

Leia a notícia-inspiradora na íntegra.