sexta-feira, 18 de setembro de 2009

CAMINHO DAS ÁGUAS

Existe uma cachoeira. Quando se sabe andar pela trilha, como eu sei, chega-se à nascente do rio em pouco tempo. Por entre o breu d'água só eu {novamente} consigo enxergar cada pedra pela qual o curso do riacho passa por cima. Talvez a visualização me seja facilitada pela constância de caminhadas que realizo por entre a mata.

O que não só eu sei - porque vejo - qualquer um poderia ver se não tivesse medo de enveredar por entre a mata, ou seguir dentro do preto fio d'água que escorre externamente. O que não só eu saberia {ou deveria saber} é o problema "hidráulico" que se apresenta.

O que se passa é a dificuldade imposta "pela natureza". O terreno ficou em aclive. O mato tomou de conta. O rio açoreou, se represou. No caso, foi represado. No começo ele, o rio, estranhava -mesmo tendo passado por isso outras vezes.

De primeiro a água que jorrava da nascente em explosões atômicas ia se acumulando, se aglomerando, se multiplicando na encosta da barragem. Até que de repente {'não mais que de repente'} ultrapassava os pedregulhos da barragem e seguia um curso. Nessas ocasiões, acreditava que teria para onde escoar eternamente...

Houveram tempos em que a vasão passava pra lá de metros pelos pedrões. O rio se apresentava viril e jurava ser capaz de eclodir quem lhe tapava o caminho. Indo, assim, caudalosamente em busca de seu objeto de desejo: Companhia. Estancava pouco a pouco ao se ver em selva inabitada. Ao se ver sozinho, sem rumo e sem destino, frustrado se deixava evaporar. Ou mergulhava na terra e de lá aguardava se tornar barro.

Se "até o perdão cansa de perdoar", com a água: não foi diferente. A nascente zangava-se de ver suas águas sempre reprezadas, desorientadas e sempre impedidas. Dela, então, saíam somente gotas. Gota-a-gota a barragem, mesmo assim, enchia, transbordava e secava.

O rio, quando viu que não tinha mais jeito, acomodou-se. Contou as horas para a morte. A qual, nunca chegava, pois sempre insistia em vasar, da nascente qualquer fio d'água. Qualquer torturante, frustrado e inútil fio d'água. Dessa vez, vermelho. Rubro como a lágrima mais triste.

Privado pelas árvores de ver o céu, pouco lhe fazia questão a cor do dia. Pouco lhe fazia questão se finalmente teria para onde escoar - não mais sozinho...

Acabou por flagelar-se. Sempre que podia - e reunia forças - lançava um gole d'água para além da margem. Às vezes, espatifava-se ao pé das árvores. Secava instantâneamente.

Mesmo afundado na mais triste amargura, cá por dentro sempre guardava a vontade de um dia ver chegar um posseiro às suas margens. Beber de sua água, deitar no seu leito, chafurdar em sua lama. Teria então, utilidade. Mesmo que nunca chegasse ao mar, se lhe houvesse qualquer forma de ser útil em alguma coisa, isso lhe traria grandes felicidades.

Fadado à solidão. Preso à cruz de nunca ter saída, o rio espera a "morte". Até que a ferida cicatrize, e até que outros brotos d'água surjam, a saga do que é "momentâneamente perene" rasga e dilacera aquele que se frustra. Compara-se às águas turvas e sem saída o amor daqueles que não podem amar, não querem amar e não se deixam amar.

"...QUE CHEGA DE REPENTE, QUE MATA E SE DESTROI, QUE ARRASA, QUE CORROI, QUE ACABA SIMPLESMENTE. AMOR QUE SE ENTREGA, AMOR QUE CEGA, AMOR QUE EMBRIAGA, QUE VEM FEITO UM TUFÃO E ABRINDO O CORAÇÃO: SE ESPALHA FEITO PRAGA. AMOR DESESPERADO, AMOR RASGADO, AMOR PROIBIDO. AMOR DESILUSÃO. AMOR EM VÃO. O AMOR NÃO FAZ SENTIDO..."

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