segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SUTILIDADES

Há coisas essenciais feitas para não serem notadas. Elas existem para - de certa forma - serem ausentes.

É engraçada a forma com que a gente respira e sequer percebe o quão involuntária é essa nossa ingestão constante de ar. E mesmo quando a gente pensa nisso, não deixamos de permanecer nessa respirância sem fim.

Outra ilustração da nossa desatenção são nossos "piscar-de-olhos". Acostumamo-nos a esquecê-los. Tudo isso porque os achamos rápidos demais. Tão acelerados que sequer aparentam roubar nossas visões. Mas isso é mentira! Um fechar de olhos - dentre os muitos significados que possa ter - soa-me como um ato ignorante por excelência. Uma espécie de recusa egoísta quase tão letal quanto a decisão de parar de respirar.

Não, isso não é uma constatação "nossa". Isso foi posto em nossas cabeças desatentas desde que começamos a existir. Nós somos aqueles que foram previamente projetados para serem desatentos sempre.

Conscientizo-me para que eu não me torne mais um ignorante, mais um desatento. Sim, eu sou alguém que deseja a diferenciação. Principalmente pelas percepções e sensações que tenho.

"Eu": a pessoa que necessita notar toda vez que as luzes me são roubadas, nem que seja por um mísero piscar de olhos.

Eu: a pessoa que durante toda essa escrita percebeu, só agora, que respirou e piscou os olhos inúmeras vezes - e, no entanto, sequer notou a tempo.

Um comentário:

Patrícia Rebeca disse...

Adorei Caraa.. bem sutil. rs
"Sim, eu sou alguém que deseja a diferenciação."

Um beijoo*