cortar todas as árvores e transformá-las em papel de imprensa
enviar para o matadouro mais próximo todos os animais
retirar da terra o petróleo ferro urânio que possa eventualmente conter e fabricar carros tanques aviões mísseis nucleares cujos morticínios hão de ser noticiados com destaque
despejar os detritos industriais nos rios e lagos
exterminar com herbicida ou napalm os últimos traços de vegetação
evacuar a população sobrevivente para as fábricas e cortiços da cidade
depois de reduzir assim a paisagem à medida do
homem
erguer um estábulo com restos de madeira cobrí-lo de chapas enferrujadas e esperar
esperar que algum boi doente algum burro fugido algum carneiro sem dono venha nele esconder-se
esperar que venha ajoelhar-se diante dele algum velho pastor que ainda acredite no milagre
esperar esperar
quem sabe um dia não nasce ali uma criança e a vida recomeça?
José Paulo Paes
Um comentário:
Gostei muito disso, muito!
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