domingo, 21 de fevereiro de 2010

FUNERAL

Neste domingo (21/02), enquanto almoçava em uma churrascaria, reparei que foi demolida uma casa antiga que “somente” serviu de cenário para o primeiro longa metragem gravado integralmente no Estado da Paraíba na década de 70. Os pombalenses deveriam, no mínimo, sentirem-se orgulhosos por terem o prestígio de ter a cidade escolhida para as filmagens. No entanto, a importância dada à história parece só existir dentro de quem vivenciou a época, ou pelo que pude perceber, nem isso.

Não preciso citar que constuções como aquela não são mais levantadas. Não sei nem sequer se a casa era habitada. Não sei quando foi demolida ou o motivo da demolição. Vale salientar que o que foi destruído não foi somente a casa, foi parte da história da cidade e de seu povo, os quais acredito que nem se importaram com tal CRIME. Evidentemente, parte da culpa também recai sobre todo o Estado, uma vez que mesmo que sendo pertencente à Pombal, a construção foi não só cenário como também personagem de um filme genuinamente paraibano. Sendo 2010 um ano eleitoreiro, sabemos muito bem que qualquer um que suba ao poder é plenamente capaz de deixar ruir todo e qualquer símbolo histórico se a POPULAÇÃO – que, hoje, não passa de escada para políticos - não é sequer capaz de reinvindicar o que é de sua posse. Todo esse problema possui ramificações ainda mais profundas. Imaginemos uma família miserável: será mesmo que ela prefere um monte de tijolos com “teor histórico” a uma cesta básica? De forma alguma! É plenamente aceitável e recomendável que ela menospreze “coisas velhas” e aceite o que lhe nutrirá realmente. Também aqueles que possuem mesa farta e dominam qualquer decisão política - mandam, desmandam - e no entanto ficam sentados sem tomar partido frente a esse desrespeito, esses sim é quem esbanjam a verdadeira miséria: A INTELECTUAL. Mesmo que sejam estudados, mesmo que tenham 1001 títulos e graduações, antes fossem completos ignorantes! Antes fossem trabalhadores rurais porém HUMILDES o bastante para preservar e saber conviver com o que faz parte de sua história. São organismos estupidamente ricos porém com mentes completamente vazias de valores. Aliás, de certa forma são transbordantes de valores completamente antiéticos que só buscam e se importam com nada menos do que DINHEIRO – e só se importam com ele porque é quem confere o PODER. Portanto o que não gera lucro ou reconhecimento é despresado.

Primeiramente pergunta-se o por que de aquela casa não ter sido tombada como patrimônico histórico, assim como outras construções antigas na cidade. Em termos práticos, enquanto a casa ainda existia, a única utilidade dela era servir de outdoor para propagandas. Sua existência era simplesmente esquecida. Acho estranho esse modo de demonstrar carinho e apego pela história da cidade. Em cima do comentário de José Tavares de Araújo Neto acerca do filme SALÁRIO DA MORTE (Alem do valor sentimental para nós pombalense, ‘O Salário da Morte’ tem imensurável importância dentro do contexto histórico da cenografia da Paraíba...”) eu posso afirmar CATEGORICAMENTE que a importância desse filme para o nordestino, o paraibano e sobretudo para o pombalense é NULA. Se houvesse alguma consideração pelo filme JAMAIS um absurdo desse seria tolerado. O que resta agora é destruirmos o filme, acabar com todas as suas cópias, assim como acontecia antigamente por imposição das ditaduras. A diferença tênue era que a população era dominada, porém, não deixava de se revoltar. Continuava produzindo cultura, produzindo história, fazendo revolução: uma das poucas coisas que fazem alguns agradecerem por serem brasileiros. Atualmente somos nós, a população que destruimos de olhos fechados o que nos pertence – nossa cultura. Somos completamente cegos, mudos, surdos e analfabetos.

Depois de hoje, depois de todo esse descaso, sou plenamente capaz de prever e visualizar o dia em que a Coluna do Relógio cairá por terra para dar lugar ao que há de mais moderno para contabilizar o tempo. Afinal, VIVA A MODERNIDADE! Enxergo o dia em que o Coreto ficará em escombros cedendo a localidade privilegiadíssima para um magnífico espelhado arranhacéu. Imagino a Igreja do Rosário em ruínas com a finalidade de ser construído o que há de mais atual e glamuroso na categoria de exuberantes templos religiosos. E a outra igreja, que em teoria é tombada? Essa já está caindo, mesmo. Pelo menos será poupada uma grande quantidade de mão-de-obra...

Finalizo afirmando que não se dá dois passos à frente com uma cabeça que está há 1km para trás. Não se atinge o futuro desrespeitando e ignorando o passado. Até porque, pensemos, em um futuro próximo, seremos nós os ultrapassados e se não dermos um BASTA, hoje, nessa característica de arruinar o que já se passou, seremos , também, arruinados sem piedade alguma em um futuro próximo.

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