terça-feira, 24 de novembro de 2009

ULTIMATUM

Fora tu, reles e esnobe plebeu.
E fora tu, imperialista das sucatas.
Charlatão da sinceridade!
Tu da juba socialista...
E tu qualquer outro.
Ultimatum a todos eles,
e a todos que sejam como eles.
Todos.

Monte de tijolos com pretensões à casa.
Inútil luxo. Megalomania triunfante.
E tu, Brasil. Blague de Pedro Álvares Cabral,
que nem te queria descobrir...

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular.
Que confundis tudo.
Vós, anarquistas deveras sinceros
socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhador
para quererem deixar de trabalhar...
Sim, todos vós que representais o mundo.
Homens altos:
Passai por baixo do meu desprezo!
Passai aristocratas de tanga de ouro!

Passai, frouxos!
Passai radicais do pouco...
Quem acredita neles?
Mandem isso tudo para casa
descascar batatas simbólicas!

Fechem-me tudo isso à chave!
E deitem a chave fora!
Sufoco de ter somente isso a minha volta.
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas.
Abram mais janelas
do que todas as janelas que há no mundo!

Nenhuma idéia grande,
nenhuma corrente política
que soe a uma idéia grão.
O mundo quer a inteligência nova!
Sensibilidade nova!
O mundo tem sede de que se crie.
Porque aí está a apodrecer a vida.
Quando muito é estrume para o futuro!
O que aí está não pode durar.
Porque não é nada!

Eu, da raça dos navegadores,
afirmo que não pode durar.
Eu, da raça dos descobridores,
desprezo o que seja menos
que descobrir um novo mundo.
Proclamo isso bem alto!
Braços erguidos,
fitando o Atlântico,
e saudando abstratamente o infinito.



(Álvaro de Campos)

Nenhum comentário: